Políticas, com ofensas à Igreja, não!
Na atual campanha eleitoral para os cargos do Poder
Municipal, a Arquidiocese de São Paulo tem procurado manter uma postura
coerente com as disposições canônicas da Igreja Católica e com suas próprias
orientações pastorais. Instruções foram passadas ao clero, para que os espaços
e os momentos de celebrações religiosas não sejam utilizados para a propaganda
eleitoral partidária, nem para pedir votos para candidatos. Estas orientações
também estão sintonizadas com as próprias normas da Justiça Eleitoral.
Entretanto, a mesma Arquidiocese, através de seu
Arcebispo e dos Bispos Auxiliares, também deu orientações e critérios sobre a
participação dos fiéis na campanha eleitoral e na vida política da cidade e
sobre a escolha de candidatos idôneos, embora sem citar nomes ou partidos.
Essas orientações estão amplamente divulgadas. Entendemos que o voto dos
cidadãos é livre e não deve ser imposto aos fiéis, como por “cabresto
eleitoral”, pelos ministros religiosos; nem devem nossos templos e organizações
religiosas ser transformados em “currais eleitorais”, reeditando práticas de
uma política viciada, que deveriam estar superadas. A manipulação política da
religião não é um benefício para o convívio democrático e pluralista e pode
colocar em risco a tolerância e a paz social.
Também com este propósito, enquanto organização presente
de maneira capilar na cidade, a Arquidiocese de São Paulo convidou os 5
candidatos, atualmente mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais, sem
distinção de partido, para um colóquio com o clero e os religiosos, no próximo
dia 20 de setembro, para que os candidatos tenham a ocasião de apresentar seus
projetos e propósitos de governo e, da parte do clero e dos religiosos, possam
ouvir os questionamentos sobre assuntos que interessam muito o povo de São
Paulo e dizem respeito a realidades e questões, nas quais as organizações da
nossa Igreja estão profundamente inseridas e envolvidas.
Consideramos que a manipulação e instrumentalização da
religião, em função da busca do poder político, não prometem ser um bem para a
sociedade e não são coerentes com os princípios da liberdade de consciência e
do legítimo pluralismo no convívio dos cidadãos. Além de tudo, isso poderia
deixar divisões e feridas dificilmente cicatrizáveis no seio das religiões e
das comunidades religiosas.
Muito nos entristeceu, no contexto da propaganda
eleitoral partidária, ver a Igreja Católica Apostólica Romana atacada e
injuriada, de maneira injustificada e gratuita, justamente num artigo do chefe
da campanha de um candidato à Prefeitura de São Paulo. Coisas ali ditas sobre a
Igreja Católica são difamatórias e beiram ao absurdo, merecendo todo o repúdio.
Não foram ofendidos e desprezados apenas os fiéis católicos da Arquidiocese de
São Paulo, mas de toda a Igreja Católica no Brasil, uma vez que o autor do
infeliz escrito também é chefe nacional do partido que representa.
Semelhantes ataques são inaceitáveis e a Arquidiocese de
São Paulo não podia deixar de se manifestar, como fez com uma Nota de Repúdio,
através de sua Assessoria de imprensa, durante a semana que passou. A
Arquidiocese não aceita a afirmação de que o fato foi trazido à tona por ela
mesma, ou por um “falso blogueiro”, uma vez que nem o próprio autor negou a
autoria do escrito, que se encontra atualmente no seu blog, e também nos
“sites” relacionados com o mesmo partido. Portanto, o artigo já estava sendo usado
na campanha eleitoral, antes da manifestação da Arquidiocese.
Também é inaceitável que na campanha eleitoral se fomente
um clima de intranqüilidade entre os cristãos das diversas comunidades e
denominações, que convivem na cidade de São Paulo. Temos muito em comum na
nossa fé e somos todos cidadãos desta cidade imensa, onde nossa atuação e
testemunho comum de fé têm muito a contribuir para o bem da cidade,
especialmente no serviço à justiça social, à verdade, à dignidade humana e na
solidariedade para com os que mais sofrem e mais precisam das atenções do Poder
Público municipal.
Reiteramos nossa orientação para que os fiéis católicos
votem de maneira consciente, livre e responsável, e de acordo com os princípios
e valores que orientam suas próprias vidas e da fé que abraçam, contribuindo
para que nossa cidade seja governada por Autoridades dignas e atentas à
promoção do bem da cidade, mais que aos interesses de parte, e capazes de
promover a solidariedade e a paz entre todos os habitantes desta Metrópole.
SÃO PAULO, 16. 09. 2012
Cardeal D.Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
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