segunda-feira, 25 de março de 2013

Não temas! Chamei-te pelo nome: Tu és meu!



Profissão Religiosa Salesiana
Curitiba
31 de janeiro de 2013



Hoje é um dia de festa para a Igreja e para o mundo. Celebramos o Santo dos jovens, “São João Bosco”, o Pai e Mestre que entregou a sua vida inteira para que seus jovens pobres tivessem vida em abundância.
E nós fazemos festa participando das primeiras profissões destes 20 jovens das Inspetorias de Porto Alegre, Recife e São Paulo, que respondem com alegria a Deus que os chamou à vida desde o seio de suas mães, à vida cristã com a água do batismo e, agora, os consagra para serem totalmente dele.
“Não temas! Chamei-te pelo nome: tu és meu!”
São palavras do profeta Isaías, que deverão orientar a vida de vocês. Porque Deus os amou por primeiro, agora, os consagra e envia para serem homens de Deus entre os jovens.
Nós, salesianos, estamos nos preparando para celebrar o bicentenário do nascimento de Dom Bosco. Vocês são os novos salesianos deste bicentenário.
Já se passaram muitos anos desde aquele 19 de dezembro de 1859, quando Dom Bosco chamou pessoalmente 17 jovens do seu oratório para serem os primeiros salesianos.
O mundo mudou.
A Congregação mudou.
Mas o amor de Deus não muda nunca. O Evangelho não muda, o amor do Pai não muda.
O que deve mudar é a nossa resposta, para que o seu evangelho de salvação possa chegar ainda hoje ao mundo inteiro, aos jovens do Brasil.
Como autênticos seguidores de Cristo, vocês assumem o projeto apostólico de Dom Bosco para serem testemunhas radicais e, como “novos” salesianos, místicos, profetas e servos.
Esta é a reflexão que a Congregação inteira fará em vista do Capítulo Geral 27. Por isso, também vocês são chamados a esta renovação para serem salesianos novos, com a paixão apostólica de Dom Bosco.
Para isso, precisam de três coisas.

1. Ser homens de Deus: salesianos místicos
Isaías afirma: “Não temas: eu te resgatei, te chamei pelo nome, e és meu; não temas: eu estou contigo” (Is 43,1-7).
Para um consagrado, o fundamento de sua vida está em Deus. “Evangelizar é, antes de tudo, dar testemunho, de maneira simples e direta do Deus revelado por Jesus Cristo mediante o Espírito Santo” (EM 26).
A partir da ótica da missão, a consagração abrange a pessoa inteira e todos os aspectos importantes do seguimento de Cristo. Consagração é oração, é missão, é vida comunitária; consagração é estar com os jovens no mundo em que eles vivem.
A pergunta, então, que nos colocamos é esta: Como podem ser homens de Deus na vida diária? Creio que muitos consagrados se enganaram ao interpretar que o definitivo em nossa vocação era somente trabalhar pelo Reino de Deus, da manhã à noite. Transformaram-se em “funcionários” da Igreja, em “administradores eficientes” do Reino. Contudo, esqueceram-se do Deus do Reino.
Se o trabalho não for acompanhado de uma vida entregue por amor, pode converter-se numa catarata de palavras que soam bem, mas são ocas, porque não são impregnadas do fogo do amor.
Não é possível ser homem de Deus e descobri-lo em todas as coisas sem olhos impregnados de fé e de amor.
Não é possível ser contemplativo na ação sem antes ser contemplativo na oração.
Sendo contemplativo na oração, podem ser contemplativos também na ação.
Deus não pode ser visto diretamente nas pessoas e nas coisas. As pessoas e as coisas podem converter-se em sinal da presença amorosa de Deus, quando Ele já foi descoberto na intimidade da oração pessoal.
Os discípulos, depois da Ressurreição de Jesus, não foram capazes de reconhecer a Cristo à primeira vista, apesar de estarem falando com Ele.
Maria Madalena chorava sua ausência; Jesus se apresenta e ela o confunde com o jardineiro.
Os discípulos de Emaús partilham com Ele várias horas e o confundem com um viajante qualquer.
Os Apóstolos ouvem sua voz quando da praia ele pergunta se pescaram alguma coisa e o confundem com um intruso que lhes dá conselhos errados.
Só o reconhecem quando Jesus repete o sinal que os transfere ao mundo da fé e descobre para eles a realidade oculta de sua presença. Os discípulos de Emaús o reconhecem ao partir o pão, porque em outras ocasiões, Ele tinha feito esse sinal. Os Apóstolos o reconhecem quando lhes diz que lancem a rede à direita, porque em outra ocasião, fez um milagre com essas mesmas palavras. E Maria Madalena o reconhece quando Jesus a chama “Maria” no mesmo tom de voz com que ela havia saboreado a ternura da sua presença.
Não é fácil descobrir Deus presente nas pessoas e na realidade se não se traz aceso interiormente o fogo do seu amor.
Jesus não é reconhecido na vida, se Ele não foi conhecido e saboreado anteriormente na tonalidade da sua voz, de seus gestos e palavras em longas horas de contemplação. A contemplação na oração pessoal é o que faz crescer na fé e no amor, o que faz caminhar até a identificação de critérios, atitudes e sentimentos com o Amado, aquele que introduz no diálogo interior e submerge no Mistério do Deus inacessível.
Em seguida, virá o momento da comunicação expansiva e do compromisso com o irmão, da ação apostólica, do encontro com Deus na vida, e de uma nova dimensão contemplativa.
Torna-se, então, indispensável, a necessidade de ser contemplativo na oração para nos encontrarmos com Deus na vida e na atividade apostólica. A contemplação pessoal na oração é a fonte enquanto a contemplação na ação é o rio. Secando-se a fonte, seca-se o rio. Se a fonte é abundante e contínua, o rio estende-se e fecunda a vida.
Por isso, Deus repete as mesmas palavras de Isaías: “Não temam, porque eu os resgatei, os chamei por seus nomes e agora vocês são meus. Não temam, porque eu estou com vocês”.

2. Ser homens de Deus para os jovens: salesianos servos
Deus os chamou para serem homens de Deus e os envia aos jovens.
Ser de Deus significa pertencer aos jovens.
A contemplação de Deus leva-os a estar com os jovens e entregar a própria vida a eles.
Ser de Deus significa pertencer aos jovens.
Maria reconheceu a Deus primeiramente no anúncio do Anjo, meditou em suas palavras, conservou-as no seu coração, porque a razão não conseguia entendê-las. Passou muito tempo na contemplação dessas palavras; depois – a contemplação do Amado – levou-a a visitar sua prima Isabel.
Ser homens de Deus para os jovens significa ser “pais” no sentido mais forte da palavra: amar os jovens com ternura, estar com eles, vê-los crescer, educá-los no amor que se entrega, no sacrifício de si, no esforço diário. Lembrem-se de que Deus é pai e educa com coração de mãe.
Ser homens de Deus para os jovens significa ser seus amigos: conhecer a juventude do Brasil de hoje, estar em sintonia com ela, aceitar o que for bom, ser otimista, crer que Deus ainda está presente em nosso mundo.
Ser homens de Deus para os jovens significa ser seus companheiros de viagem: ou seja, caminhar com os jovens de hoje pelos caminhos da graça e do pecado; o que significa que devem estar sempre em pé, não sentados em seus quartos ou escritórios e ver passar os jovens como numa vitrine, mas estar com eles, acompanhá-los, estar sempre ao lado deles; nem atrás, nem à frente, mas ao lado, sempre próximo.

3. Ser homens de Deus para os jovens em comunidades fraternas: salesianos profetas
Façam da comunidade a casa de vocês. Retornem com alegria para casa depois de um dia de trabalho. “Viver e trabalhar juntos” é uma condição essencial que garante um caminho seguro para realizar a nossa vocação (cf. Const. 49).
Considerem os seus irmãos e comunidade como “companheiros” de viagem, que é preciso conhecer, amar e carregar nos ombros, se for necessário. Os irmãos não pesam, são nossos irmãos.
O dia da comunidade não é um dia que tiramos aos jovens. É um dia para rezar juntos, projetar juntos e experimentar juntos o amor de Deus.
Façam da própria comunidade salesiana uma família na qual o amor é o centro que une e faz desaparecer as diferenças humanas e culturais, que se possam ter. Uma comunidade sem comunhão e sem afeto não é uma comunidade salesiana. Por outro lado, a comunhão sem comunidade é uma forma narcisista de viver a vida, é individualismo.
Não há fraternidade verdadeira sem qualidade humana, espiritualidade vivida e dedicação apostólica.
A comunidade religiosa é, ainda, uma grande contribuição que oferecemos a um mundo dividido pela injustiça social, pelos conflitos interétnicos e por certos modelos sociais, culturais e econômicos que estão destruindo a solidariedade e hipotecando para sempre a fraternidade. Deus é comunidade. Deus é amor. Eis a boa notícia! Eis o quanto somos chamados a oferecer para a humanização do mundo.
Quero agradecer, sobretudo, aos pais destes jovens. Caríssimas mães e caríssimos pais: vocês são os primeiros colaboradores de Deus e de Dom Bosco. Sem o seu amor e a sua generosidade a Congregação salesiana não existiria.
Obrigado, em nome de Dom Bosco e do Reitor-Mor!
Quero repetir para vocês o que Dom Bosco dizia: “Quando um jovem, obedecendo a Deus e à vocação, deixa a própria família, Jesus toma pessoalmente o seu lugar na família”. Vocês deram um filho a Deus e à Congregação com generosidade. Jesus ocupa o lugar dele.
Caríssimos noviços: a vocação é um dom, a formação é uma tarefa que dura toda a vida. O Noviciado não termina hoje com a primeira profissão. A formação continua agora no pós-noviciado e continuará a vida toda.
A vocação é um dom de Deus que chama todos os dias.
A formação é tarefa de cada um de vocês. Não existe o salesiano, ele se forma todos os dias e se conforma todos os dias com Cristo Bom Pastor. É a tarefa de cada um de vocês, de cada irmão, da Inspetoria e da Congregação.
“Configurar-se a Cristo e dar a vida pelos jovens, como Dom Bosco” é, em síntese, “a vocação salesiana de vocês”, a sua identidade. “A formação inteira – inicial e permanente – consiste em assumir e tornar real essa identidade na vida de vocês”. A identidade salesiana é “o coração de toda a sua formação salesiana”, a sua norma e a sua meta.
A Virgem Maria, que é a Virgem da fidelidade, os acompanhe sempre nos dias de cruz e nos dias de alegria da Ressurreição. A fidelidade, agora, é o esforço de todos vocês. É a sua alegria. É a sua cruz.
Desejo-lhes o que dizia o meu Mestre de Noviços: “Que o nome de vocês seja inscrito no necrológio salesiano”.
Assim seja.

 Homilia de P. Natale Vitali Forti
Regional

segunda-feira, 18 de março de 2013

Só o AMOR Educa

Só o amor educa: as nove páginas do Sistema Preventivo de Dom Bosco são um condensado da sabedoria pedagógica, uma profissão de fé no valor da educação. Abaixo segue o link do vídeo produzido pela Missioni Don Bosco.:
http://www.missionidonbosco.tv/video/1396/so-o-amor-educa

terça-feira, 12 de março de 2013

Como proceder para dar resposta ao sentido da vida?


Todos os homens têm, por natureza, o desejo de conhecer, diz Aristóteles em sua obra “Metafísica”. Dentre os desejos de conhecer que o homem busca, destaca-se a busca do sentido da vida. A Filosofia busca a resposta para o sentido da vida, mas essa última continua sendo uma problemática. Deparamo-nos com muitas definições para sentido da vida, mas uma resposta definitiva permanece obscura. Na vida “é próprio de todos os homens quererem ser felizes, mas nem todos possuem a fé para chegar à felicidade pela purificação do coração. A fé é necessária para se alcançar a Felicidade em relação a todos os bens da natureza, ou seja, em relação à alma e ao corpo”, segundo Santo Agostinho,
            O fato mais fundamental da consciência é a vida, segundo Ortega y Gasset. A consciência é aquilo que faz a interação do homem com o meio e do homem consigo mesmo. O homem está à procura de uma base verdadeira, mas qual seria ela? A filosofia moderna busca a verdade mais certa, aquela que é indubitável. Ortega afirma que a verdade primeira e incontestável é a vida e não há outra.
            O que é a vida? O filósofo Eduardo Prado de Mendonça aborda a vida como um mistério limitado pelo nascer e morrer. O homem pensa no seu viver, permanecendo em constante busca do sentido da vida. Portanto, o problema primordial do homem é conhecer o significado do fato de nascer, viver e morrer. O percurso, do nascimento até a morte, é, por muitas pessoas, questionado, mas como ele não encontra uma resposta definitiva, acaba, na maioria das vezes, esquivando-se da problemática.  A ordem do processo vital, que é partir do nascer e chegar ao morrer, não é reversível. E por ela ter uma direção, logo pensamos o sentido dessa direção. Assim o sentido da vida se tornou um desafio à inteligência humana.
            Em cada decisão tomada na vida é implicado o fato vivo de nascer e morrer, pois passamos pela experiência do processo de seleção e escolha, segundo Eduardo Prado. Sócrates diz que uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida. A cada decisão tomada passamos por um desafio. A vida busca transcender de si mesma desinteressando-se das coisas, cortando o não-essencial. A vida é cuidado, conforme Heidegger. Ortega herda a idéia de Heidegger, afirmando que “a vida é preocupação, pois a cada instante fazemos uma decisão do que seremos no futuro. É ocupar-se por antecedência, é preocupar-se”.
            A palavra alma é um termo que deriva do latim anima, aquilo que dá animo, que dá movimento a vida. O homem busca a felicidade plena. “Eu nunca vi, nem ouvi, nem cheirei, nem saboreei ou apalpei minha alegria, mas sempre a experimentei na alma quando me alegrei,” escreve Santo Agostinho, na sua obra “Confissões”. A felicidade é o que dá entusiasmo a vida, seja na decisão, seja no doar-se ao outro.
            Agostinho desenvolverá essa idéia de felicidade, fazendo com que a busca da alma se converta no movimento dirigido a Deus: “[...] Deus Felicidade, em quem, por quem e mediante quem são felizes todos os seres que gozam de Felicidade. [...] Onde há plena concórdia, total evidência, total constância, suma plenitude e vida plena. Em quem nada falta, nada sobra.” Ou seja, afirma Deus como à própria felicidade.
            O amor é a doação que o homem faz de si mesmo, assumindo sua responsabilidade na existência, e se manifesta como trasbordamento da vida, conforme Eduardo Prado. A nossa vida movimenta-se para um sentido autêntico quando é vivida com amor, pois é no amor que o homem vai encontrar sua posição, de fato, na história. “Seria vergonhoso amar as coisas por serem boas, apegando-se a elas e não amar o próprio Bem, que as faz serem boas” diz Santo Agostinho. É no amor, que como luz que ilumina, encontraremos o sentido da vida. Sendo a vida um dom, saberemos amá-la e sentiremos a alegria de viver, conclui Eduardo Prado no seu livro”O mundo precisa de filosofia”. Amar, doar-se ao próximo, é um ato que garante ao homem a felicidade. Portanto, a caridade é um trajeto que leva a felicidade, e a felicidade é um trajeto que leva a caridade, como um perfeito movimento dialético. A união destes dois fatos, amar e felicidade, dão resposta para o sentido da vida.

S. Rodrigo Souza,sdb