O amor que tenho por Ti é fogo abrasador, que queima e
consome, fazendo arder e, enfim, morrer; morrer de Amor. Permanecer no Amor de
Deus é intimidade repleta de um “amor intenso e criativo, total e totalizante,
sem limites nem restrições, condições ou reservas” (cf. Lonergan).
São Paulo da Cruz afirma que “o amor é força de união” é
“fogo (que) vai até à medula”. Como não amar e se deixar ser amado? Segundo
Amedeo Cencini “o ser humano é feito para isso; não pode deixar de se entregar
e de se abandonar totalmente a alguém ou a uma grande paixão”. Nossa vocação é
amar. Somos seres de relação e de paixão. Queremos amar e ser amados, tocar e
ser tocados, olhar e ouvir. A relação repleta de paixão gera intimidade.
A intimidade é como flecha de Deus, que deixa o coração
ferido pela ponta da fé e que está mortalmente ferido de amor (cf. São Gregório
de Nissa). Pela intimidade estão estreitamente ligados, o Amado penetra
profundamente a amada fazendo com que não haja espaço entre os dois,
tornando-se fonte geradora de conhecimento.
O frade capuchinho Peirano canta a paixão do seu amor por
Cristo:
“Eras Tu
Aquela
parte de mim mesmo
Que eu
buscava por toda parte
Para me
completar”.
Esta inserido no homem a busca por Deus. Santo Agostinho confessa:
“Fizeste-nos para ti, e inquieto esta o
nosso coração, enquanto não repousa em ti”. ”Amar ao Senhor sobre todas as
coisas não significa não amar ninguém mais. Significa que Ele ocupa o primeiro
lugar”, afirma M. Danieli no livro ‘Liberi
per chi? Il celibato ecclesiastico’. O tema amar e descobrir Deus no irmão
ficará para outro momento, mas o segredo para aprender amar a Deus e ao próximo
esta no exercício.
Deus seduz a criatura, deixando-a com sede. Ele provoca,
tira do eixo. A sedução implica renúncia, pois estamos deixando o comodismo
para seguir a voz de Deus em nossa vida, sendo conduzido a plenitude. A
renúncia gera mudança. Declara São Paulo da Cruz “nem sofrer nem morrer, apenas
a perfeita conversão à vontade de Deus”. Portanto, a renúncia conduz a relação
e a ouvir sua vontade. Conforme o Abade Bernardo, “muitas vezes a vontade de
Deus é a mesma que a nossa. A minha vontade deve estar em contato com Deus, com
o Evangelho, com a Tradição da Igreja, tradição da nossa comunidade religiosa.
Talvez tenhamos medo de fazer a vontade de Deus”. A resposta ao chamado de Deus
esta no coração livre, pois Deus não invade a liberdade do ser.
“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o coração, de toda
a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças“ (Mc 12,30).
Conforme Cencini “é preciso toda a vida e cada batida do coração” para amar a
Deus. O apaixonado por Deus conhece suas fraquezas e goza da certeza de ser
amado e de amar.
Quando se ama não se sente necessidade de outros afetos,
ainda mais quando se sente amado por Deus presente no irmão. Amedeo Cencini
ensina que “quem não é apaixonado pelo Criador não esta livre para deixar-se
amar pelas criaturas”. O apaixonado por Cristo tem como eixo de sua vida o Deus
amor. Assume Deus e descobre a beleza de fazer as coisas por amor. Nesta
relação intensa e íntima se descobre o Mestre, a Verdade, o Bom Pastor que
revela o caminho. São Gregório de Nissa canta na oração ao Bom Pastor:
“Mostra-me o lugar da quietude, leva-me à erva boa e nutritiva, chama-me pelo
nome e, assim, eu que sou ovelha, ouvirei tua voz; e por causa de tua voz,
dá-me a vida eterna”.
Gregório de Nissa continua “como não Te amar, a Ti que
amaste minha alma, embora ainda manchada, a tal ponto que deste a vida pelas
ovelhas que apascentas?” Neste amor descubro a minha identidade que esta
“escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). A mancha é agora coberta pelo amor
(cf. 1Pd 4,8) e somos carregados para a casa do Bom Deus. Deixamo-nos ser
guiados, “a ponto de decidir livremente depender d’Ele” (Cf. Cencini).
Temos consciência que a Palavra liberta. Quando falamos a
verdade sobre nós, quando dizemos com amor “eu te amo” com todas as forças, com
a alma. O amor liberta. Amedeo afirma que “ninguém pode se dizer livre se não
tem a coragem de entregar-se totalmente àquilo que é chamado a amar,
confiando-lhe a sua própria liberdade”.
“Apaixonar-se, talvez seja fácil. O difícil é
permanecer no amor” confessa Cencini. Permanecer no amor provoca choques,
conflitos, alegrias, desejos, pois o amor tem suas estações. Aprende a amar
junto e longe; você o toca, vê, ama mesmo na ausência.
Ao ver a face de Deus nos apaixonamos, e o vemos na beleza
de sua obra. O Esposo se deixa tocar dando sentido a vida, mas permanecemos
insatisfeitos, pois o desejo de O ver, tocar, estar com Ele cresce. Corremos em
sua direção em busca de ser abraçado e sentirmos a sensação de estar sendo
completado.
O amor por Deus arde em meu peito, é força que me arrebata,
fazendo com que eu morra de amor. Este amor me tira o movimento, se sente o
desejo de somente estar contigo e quando não estou me sinto estimulado a te
procurar, pois Tu te escondeste de mim. Feliz será meu coração quando
finalmente estiver contigo na Cidade Celeste, pois amada descansará sobre o
peito do Amado e ouvirá Tu és meu. Portanto, na vida segui tuas pegadas e como
saltimbanco sobre a corda sempre busco estar pronto para cair nos teus braços
(Cf. Peirano) e descansar sobre eles ouvindo teu coração bater por mim. Repito
com frei Peirano “não conheço outra maneira de viver a não ser amando”.
Rodrigo Souza de Souza
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