domingo, 2 de dezembro de 2012

Permanecei no meu Amor



O amor que tenho por Ti é fogo abrasador, que queima e consome, fazendo arder e, enfim, morrer; morrer de Amor. Permanecer no Amor de Deus é intimidade repleta de um “amor intenso e criativo, total e totalizante, sem limites nem restrições, condições ou reservas” (cf. Lonergan).
São Paulo da Cruz afirma que “o amor é força de união” é “fogo (que) vai até à medula”. Como não amar e se deixar ser amado? Segundo Amedeo Cencini “o ser humano é feito para isso; não pode deixar de se entregar e de se abandonar totalmente a alguém ou a uma grande paixão”. Nossa vocação é amar. Somos seres de relação e de paixão. Queremos amar e ser amados, tocar e ser tocados, olhar e ouvir. A relação repleta de paixão gera intimidade.
A intimidade é como flecha de Deus, que deixa o coração ferido pela ponta da fé e que está mortalmente ferido de amor (cf. São Gregório de Nissa). Pela intimidade estão estreitamente ligados, o Amado penetra profundamente a amada fazendo com que não haja espaço entre os dois, tornando-se fonte geradora de conhecimento.
O frade capuchinho Peirano canta a paixão do seu amor por Cristo:
“Eras Tu
Aquela parte de mim mesmo
Que eu buscava por toda parte
Para me completar”.

Esta inserido no homem a busca por Deus. Santo Agostinho confessa: “Fizeste-nos para ti, e inquieto esta o nosso coração, enquanto não repousa em ti”. ”Amar ao Senhor sobre todas as coisas não significa não amar ninguém mais. Significa que Ele ocupa o primeiro lugar”, afirma M. Danieli no livro ‘Liberi per chi? Il celibato ecclesiastico’. O tema amar e descobrir Deus no irmão ficará para outro momento, mas o segredo para aprender amar a Deus e ao próximo esta no exercício.
Deus seduz a criatura, deixando-a com sede. Ele provoca, tira do eixo. A sedução implica renúncia, pois estamos deixando o comodismo para seguir a voz de Deus em nossa vida, sendo conduzido a plenitude. A renúncia gera mudança. Declara São Paulo da Cruz “nem sofrer nem morrer, apenas a perfeita conversão à vontade de Deus”. Portanto, a renúncia conduz a relação e a ouvir sua vontade. Conforme o Abade Bernardo, “muitas vezes a vontade de Deus é a mesma que a nossa. A minha vontade deve estar em contato com Deus, com o Evangelho, com a Tradição da Igreja, tradição da nossa comunidade religiosa. Talvez tenhamos medo de fazer a vontade de Deus”. A resposta ao chamado de Deus esta no coração livre, pois Deus não invade a liberdade do ser.
“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças“ (Mc 12,30). Conforme Cencini “é preciso toda a vida e cada batida do coração” para amar a Deus. O apaixonado por Deus conhece suas fraquezas e goza da certeza de ser amado e de amar.
Quando se ama não se sente necessidade de outros afetos, ainda mais quando se sente amado por Deus presente no irmão. Amedeo Cencini ensina que “quem não é apaixonado pelo Criador não esta livre para deixar-se amar pelas criaturas”. O apaixonado por Cristo tem como eixo de sua vida o Deus amor. Assume Deus e descobre a beleza de fazer as coisas por amor. Nesta relação intensa e íntima se descobre o Mestre, a Verdade, o Bom Pastor que revela o caminho. São Gregório de Nissa canta na oração ao Bom Pastor: “Mostra-me o lugar da quietude, leva-me à erva boa e nutritiva, chama-me pelo nome e, assim, eu que sou ovelha, ouvirei tua voz; e por causa de tua voz, dá-me a vida eterna”.

Gregório de Nissa continua “como não Te amar, a Ti que amaste minha alma, embora ainda manchada, a tal ponto que deste a vida pelas ovelhas que apascentas?” Neste amor descubro a minha identidade que esta “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). A mancha é agora coberta pelo amor (cf. 1Pd 4,8) e somos carregados para a casa do Bom Deus. Deixamo-nos ser guiados, “a ponto de decidir livremente depender d’Ele” (Cf. Cencini).
Temos consciência que a Palavra liberta. Quando falamos a verdade sobre nós, quando dizemos com amor “eu te amo” com todas as forças, com a alma. O amor liberta. Amedeo afirma que “ninguém pode se dizer livre se não tem a coragem de entregar-se totalmente àquilo que é chamado a amar, confiando-lhe a sua própria liberdade”.
“Apaixonar-se, talvez seja fácil. O difícil é permanecer no amor” confessa Cencini. Permanecer no amor provoca choques, conflitos, alegrias, desejos, pois o amor tem suas estações. Aprende a amar junto e longe; você o toca, vê, ama mesmo na ausência.
Ao ver a face de Deus nos apaixonamos, e o vemos na beleza de sua obra. O Esposo se deixa tocar dando sentido a vida, mas permanecemos insatisfeitos, pois o desejo de O ver, tocar, estar com Ele cresce. Corremos em sua direção em busca de ser abraçado e sentirmos a sensação de estar sendo completado.
O amor por Deus arde em meu peito, é força que me arrebata, fazendo com que eu morra de amor. Este amor me tira o movimento, se sente o desejo de somente estar contigo e quando não estou me sinto estimulado a te procurar, pois Tu te escondeste de mim. Feliz será meu coração quando finalmente estiver contigo na Cidade Celeste, pois amada descansará sobre o peito do Amado e ouvirá Tu és meu. Portanto, na vida segui tuas pegadas e como saltimbanco sobre a corda sempre busco estar pronto para cair nos teus braços (Cf. Peirano) e descansar sobre eles ouvindo teu coração bater por mim. Repito com frei Peirano “não conheço outra maneira de viver a não ser amando”.

Rodrigo Souza de Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário