quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O PROJETO

Artigo de Raimundo Luan Hadney de Luna Gonçalo

         Após formar-se com grande êxito na universidade, um jovem arquiteto resolveu fazer o projeto que seria sua obra prima, que o faria conhecida e lhe abriria grandes possibilidades de irrefutável sucesso.
         Pôs-se, então, a pensar, calcular e desenhar. Muitas vezes recorreu a seus apontamentos, escritos muito cuidadosamente durante a época dos seus estudos acadêmicos. Outras vezes ainda, buscava orientações com outros arquitetos que já haviam posto em prática seus projetos e estes davam conselhos de grande valia ao seu novo colega, mas sempre frisando que um projeto tão importante quanto aquele deveria ser expressão real da alma do arquiteto.
         Passou muitas noites em claro, pois sua mente não parava de lhe dar ideias de novas formas e linhas a serem postas no projeto. Levantava várias vezes da cama para calcular e escrever, numa ansiedade angustiante, pois sabia que era capaz de desenhar e pôr em prática qualquer projeto que quisesse. Foi esta ansiedade que o levou à primeira frustração.
         Observando a beleza de seu projeto e achando que já o havia concluído, foi correndo mostrar a seus amigos que, por sinal, também estavam projetando suas obras primas. Eles, compartilhando a felicidade do amigo, foram todos juntos ao Grande Empreiteiro, paro o qual praticamente todos os jovens arquitetos iam em busca da realização prática de seus projetos. Todos receberam uma análise razoável de seus trabalhos, acompanhadas de orientações para melhorá-los. Mas nosso amigo arquiteto, para sua grande tristeza, recebeu seu projeto com uma grande tarja vermelha onde se lia: “Reveja tudo!”
         Arrasado, quis desistir de tudo. Penso logo em refazer o projeto diminuindo-o drasticamente ao básico.
         Ao verem a tristeza e o desânimo em que estava nosso protagonista, os seu amigos buscavam reanimá-lo, pois sabiam que tinha grandes capacidades e que este seu primeiro grande erro não era nada comparado a suas possibilidades. Para isto, tiveram de pedir ajuda a um dos seus mestres da faculdade, aquele que foi um dos maiores incentivadores dos alunos e, principalmente, do seu amigo.
         A conversa que o nosso arquiteto teve com o seu mestre lhe deu novo ânimo, e ele, ousadamente, começou a trabalhar sobre o mesmo projeto inicial, empenhando-se em aperfeiçoá-lo. Muito grato a seus amigos, começou a ajudá-los em seus projetos, recebendo deles ajuda recíproca, formando assim um grande grupo de estudos e aperfeiçoamento.
         Finalmente viu que tudo já estava realmente pronto. Belíssimo! Seus amigos também tinham terminado seus projetos. Agora tinham de apresentá-los outra vez ao Grande Empreiteiro, que foi o principal orientador de todos os projetos, para que fossem aprovados e postos em prática. Esta avaliação teria de ser individual, como uma entrevista, cara-a-cara.
         Chegou então a vez de nosso jovem amigo. Todos os seus amigos já tinham os seus projetos aprovados já podendo pô-los em prática. Com o coração acelerado ele entra no escritório do “Chefão” e mostra-lhe o projeto. Depois de olhá-lo por bastante tempo, observando cada detalhe, cada curva, cada linha, o Empreiteiro abre um imenso sorriso de satisfação e lhe diz:
˗ Muito bem! Perfeito!
Aquilo deixou o nosso amigo arquiteto extasiado. Estava a ponto de explodir, de pular, de gritar, quando ouve...:
˗ Porém, não é isto que eu quero para você.
         Diante daquelas palavras tudo voltou a ser escuro. Ele quase desmaiou. Vendo a situação na qual tinha deixado o seu jovem pupilo, o homem continuou:
         ˗Não te preocupes! Teu projeto está perfeito, é algo que, se posto em prática, te daria muito prestígio e sucesso, mas eu tenho um projeto bem maior e mais importante que este, no qual, desde que tu te formaste, venho querendo te incluir como parte de minha equipe. Mas a decisão será tua, pois este projeto, o mais importante de todos, não te dará prestígio, fama ou poder diante do mercado e da sociedade, mas te edificará diante de mim e de meus colaboradores.
         O rapaz ficou preocupado e pediu um tempo para pensar, o que lhe foi prontamente concedido.
         Ao sair do escritório, todos os que o estavam esperando perceberam em seu semblante uma grande preocupação, mas não compreendiam o porquê, visto que seu projeto vinha com o carimbo verde de “Aprovado”.
         Ele explicou tudo a seus amigos. Alguns não entenderam e o aconselharam a não trocar o certo pelo duvidoso. Já outros, aqueles mais próximos dele, mesmo sabendo que ele não conseguiria fama e prestígio, o aconselharam a não descartar a proposta do Grande Empreiteiro, pois confiavam muito nele e sabiam que este grande projeto que ele tem é algo que todos podem ajudar, no entanto, ele só chamava mais diretamente aqueles que ele queria para trabalharem de forma integral, doando-se por inteiro. De fato, todos eram convidados a contribuir com a realização do grande projeto, mas muitos homens e mulheres tinham sido chamados para trabalhar nele com exclusividade, e eram felizes lá.
         Após muitas conversas com seus amigos e antigos professores, sua melhor amiga, que também era arquiteta, fez uma pergunta que ecoou no coração do nosso jovem e confuso amigo:
         ˗ Por que não se entregar nas mãos daquele que nunca nos deixou sozinhos? Confiamos nele para nos orientar. Confie nele!
         Esta pergunta também foi repetida pelos seus outros amigos e, finalmente, ficou gravada no coração e na mente do nosso jovem amigo. Então, após muito refletir ele tomou sua decisão.
         Procurou outra vez o Grande Empreiteiro e disse que estava disposto a largar mão de seu projeto de vida e ingressar na grande empreitada por outros já iniciada. O Grande Empreiteiro ficou radiante de felicidade, pois já havia projetado algo em que o nosso arquiteto se encaixaria perfeitamente. Saíram, então, para visitar aquela tão grande e misteriosa construção.
          Para a surpresa do nosso jovem arquiteto, a tal obra estava o tempo todo entre as obras de todas as outras pessoas. Até então ele ainda não a tinha enxergado, mas era algo com o qual todos contribuíam e cada vez mais eram chamados a o contribuir de forma mais intensa. Os seus olhos se abriram mais e ele viu que muitos de seus amigos, ao mesmo tempo em que começavam a cavar os alicerces de suas obras, construíam paralelamente a obra do Grande Empreiteiro.
         Sempre acompanhado de seu chefe, ele observou que a extensão da obra era enorme, o que exigia muito trabalho e muitos trabalhadores, mas ao mesmo tempo era formada tanto por grandes pavimentos com várias pessoas trabalhando unidas, quanto por pequenas casas onde cada um construía paralelamente à construção de sua vida. Todos trabalhavam em sintonia, em um projeto único formado por pequenas e grandes obras, movidos pela força extraordinária que é o Amor.
         Chegaram, então, a um ponto da grande obra onde o Empreiteiro mostrou no que o nosso jovem arquiteto já tinha contribuído, mesmo sem saber, na grande construção. Era apenas uma sala, onde estava uma escrivaninha e uma pilha de livros.
         Nosso amigo, sem compreender como havia construído aquilo, questionou o Grande Empreiteiro, querendo saber também o que significava. O Empreiteiro respondeu:
         ˗ Adquiriste até aqui um valiosíssimo conhecimento e valorizaste, até então, tua intelectualidade. Construíste isto usando aquilo que tu sabes para educares e trazeres crianças para minha construção. Mas eu não quero que continues sozinho.
         Após falar isto, o levou para um enorme condomínio em construção, onde todos os que nele trabalhavam, mesmo com seus traços particulares, entravam em harmonia na construção de casas parecidas e unidas umas com as outras, como que conjugadas. Então o Empreiteiro falou:
         ˗ É aqui que eu quero que tu trabalhes. Todos estes homens têm jeitos diferentes de ser, mas unem seus esforços para construírem um condomínio na minha grande obra.
         O jovem arquiteto olhou ao seu redor e viu que havia outras obras construídas com a mesma forma de trabalho, mas com características totalmente diferentes e igualmente belas. Observou-as, admirou-as e, voltando-se para o condomínio indicado pelo Grande Empreiteiro começou a trabalhar.
         Viu que o trabalho exigia muitos esforços, ele errava muito, mas era sempre auxiliado pelos seus irmãos que trabalhavam na construção. Antes de voltar, o Grande Empreiteiro chamou-o e disse-lhe:
         ˗ Não te preocupes com teus erros, meu filho é o mestre de obras desta grande construção, ele vai te orientar. Ele mesmo, obedecendo a mim, iniciou esta obra, e dá a vida por ela e pelos seus trabalhadores. Por ele, estarei contigo sempre.
         Assim, nosso jovem arquiteto continua seu trabalho, colocando seus traços na grande obra. Encontrou novos amigos, verdadeiros irmãos. Alguns já haviam construído grandes obras fora da obra do Grande Empreiteiro, tinham tudo para, assim como a grande maioria das pessoas, contribuírem de forma menos radical na construção. No entanto, largaram tudo e vieram entregar-se integralmente à obra do Grande Empreiteiro.
         Durante seu trabalho, o nosso jovem arquiteto viu alguns dos seus irmãos deixarem o trabalho incompleto e voltarem para seus projetos de vida originais. Outros, não construíam direito e sempre deixavam lacunas nos trabalhos que faziam. Mas existiam aqueles que se mostravam verdadeiros trabalhadores, esforçados e animados. Eram estes que traziam notáveis desenvolvimentos para a grande construção.
         Até hoje o nosso amigo está trabalhando, caindo, levantando, buscando aperfeiçoar-se para construir uma magnífica obra que ele nem sabe se vai ver concluída, assim como muitos outros que lá estão, mas na qual ele tem a certeza de estar sua realização plena e o sentido real de sua existência. Ainda está no início de tudo o que vai construir para contribuir com a grande obra de muitas moradas do Grande Empreiteiro.
         O nome desta grande construção está escrito em um livro enorme que serve de porta para esta verdadeira cidade da paz. Ele é:

“REINO DE DEUS”




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