Após formar-se com grande êxito na
universidade, um jovem arquiteto resolveu fazer o projeto que seria sua obra
prima, que o faria conhecida e lhe abriria grandes possibilidades de
irrefutável sucesso.
Pôs-se, então, a pensar, calcular e
desenhar. Muitas vezes recorreu a seus apontamentos, escritos muito
cuidadosamente durante a época dos seus estudos acadêmicos. Outras vezes ainda,
buscava orientações com outros arquitetos que já haviam posto em prática seus
projetos e estes davam conselhos de grande valia ao seu novo colega, mas sempre
frisando que um projeto tão importante quanto aquele deveria ser expressão real
da alma do arquiteto.
Passou muitas noites em claro, pois sua
mente não parava de lhe dar ideias de novas formas e linhas a serem postas no
projeto. Levantava várias vezes da cama para calcular e escrever, numa
ansiedade angustiante, pois sabia que era capaz de desenhar e pôr em prática qualquer
projeto que quisesse. Foi esta ansiedade que o levou à primeira frustração.
Observando a beleza de seu projeto e
achando que já o havia concluído, foi correndo mostrar a seus amigos que, por
sinal, também estavam projetando suas obras primas. Eles, compartilhando a
felicidade do amigo, foram todos juntos ao Grande Empreiteiro, paro o qual praticamente
todos os jovens arquitetos iam em busca da realização prática de seus projetos.
Todos receberam uma análise razoável de seus trabalhos, acompanhadas de
orientações para melhorá-los. Mas nosso amigo arquiteto, para sua grande
tristeza, recebeu seu projeto com uma grande tarja vermelha onde se lia:
“Reveja tudo!”
Arrasado, quis desistir de tudo. Penso
logo em refazer o projeto diminuindo-o drasticamente ao básico.
Ao verem a tristeza e o desânimo em que
estava nosso protagonista, os seu amigos buscavam reanimá-lo, pois sabiam que
tinha grandes capacidades e que este seu primeiro grande erro não era nada
comparado a suas possibilidades. Para isto, tiveram de pedir ajuda a um dos
seus mestres da faculdade, aquele que foi um dos maiores incentivadores dos
alunos e, principalmente, do seu amigo.
A conversa que o nosso arquiteto teve
com o seu mestre lhe deu novo ânimo, e ele, ousadamente, começou a trabalhar
sobre o mesmo projeto inicial, empenhando-se em aperfeiçoá-lo. Muito grato a
seus amigos, começou a ajudá-los em seus projetos, recebendo deles ajuda
recíproca, formando assim um grande grupo de estudos e aperfeiçoamento.
Finalmente viu que tudo já estava
realmente pronto. Belíssimo! Seus amigos também tinham terminado seus projetos.
Agora tinham de apresentá-los outra vez ao Grande Empreiteiro, que foi o
principal orientador de todos os projetos, para que fossem aprovados e postos
em prática. Esta avaliação teria de ser individual, como uma entrevista, cara-a-cara.
Chegou então a vez de nosso jovem
amigo. Todos os seus amigos já tinham os seus projetos aprovados já podendo
pô-los em prática. Com o coração acelerado ele entra no escritório do “Chefão”
e mostra-lhe o projeto. Depois de olhá-lo por bastante tempo, observando cada detalhe,
cada curva, cada linha, o Empreiteiro abre um imenso sorriso de satisfação e
lhe diz:
˗ Muito bem!
Perfeito!
Aquilo deixou o nosso amigo arquiteto
extasiado. Estava a ponto de explodir, de pular, de gritar, quando ouve...:
˗ Porém, não é isto que eu quero para
você.
Diante daquelas palavras tudo voltou a
ser escuro. Ele quase desmaiou. Vendo a situação na qual tinha deixado o seu
jovem pupilo, o homem continuou:
˗Não te preocupes! Teu projeto está
perfeito, é algo que, se posto em prática, te daria muito prestígio e sucesso,
mas eu tenho um projeto bem maior e mais importante que este, no qual, desde
que tu te formaste, venho querendo te incluir como parte de minha equipe. Mas a
decisão será tua, pois este projeto, o mais importante de todos, não te dará
prestígio, fama ou poder diante do mercado e da sociedade, mas te edificará
diante de mim e de meus colaboradores.
O rapaz ficou preocupado e pediu um
tempo para pensar, o que lhe foi prontamente concedido.
Ao sair do escritório, todos os que o
estavam esperando perceberam em seu semblante uma grande preocupação, mas não
compreendiam o porquê, visto que seu projeto vinha com o carimbo verde de
“Aprovado”.
Ele explicou tudo a seus amigos. Alguns
não entenderam e o aconselharam a não trocar o certo pelo duvidoso. Já outros,
aqueles mais próximos dele, mesmo sabendo que ele não conseguiria fama e
prestígio, o aconselharam a não descartar a proposta do Grande Empreiteiro,
pois confiavam muito nele e sabiam que este grande projeto que ele tem é algo
que todos podem ajudar, no entanto, ele só chamava mais diretamente aqueles que
ele queria para trabalharem de forma integral, doando-se por inteiro. De fato,
todos eram convidados a contribuir com a realização do grande projeto, mas muitos
homens e mulheres tinham sido chamados para trabalhar nele com exclusividade, e
eram felizes lá.
Após muitas conversas com seus amigos e
antigos professores, sua melhor amiga, que também era arquiteta, fez uma
pergunta que ecoou no coração do nosso jovem e confuso amigo:
˗ Por que não se entregar nas mãos
daquele que nunca nos deixou sozinhos? Confiamos nele para nos orientar. Confie
nele!
Esta pergunta também foi repetida pelos
seus outros amigos e, finalmente, ficou gravada no coração e na mente do nosso
jovem amigo. Então, após muito refletir ele tomou sua decisão.
Procurou outra vez o Grande Empreiteiro
e disse que estava disposto a largar mão de seu projeto de vida e ingressar na
grande empreitada por outros já iniciada. O Grande Empreiteiro ficou radiante
de felicidade, pois já havia projetado algo em que o nosso arquiteto se
encaixaria perfeitamente. Saíram, então, para visitar aquela tão grande e
misteriosa construção.
Para a surpresa do nosso jovem arquiteto, a
tal obra estava o tempo todo entre as obras de todas as outras pessoas. Até
então ele ainda não a tinha enxergado, mas era algo com o qual todos
contribuíam e cada vez mais eram chamados a o contribuir de forma mais intensa.
Os seus olhos se abriram mais e ele viu que muitos de seus amigos, ao mesmo
tempo em que começavam a cavar os alicerces de suas obras, construíam
paralelamente a obra do Grande Empreiteiro.
Sempre acompanhado de seu chefe, ele observou
que a extensão da obra era enorme, o que exigia muito trabalho e muitos
trabalhadores, mas ao mesmo tempo era formada tanto por grandes pavimentos com
várias pessoas trabalhando unidas, quanto por pequenas casas onde cada um
construía paralelamente à construção de sua vida. Todos trabalhavam em
sintonia, em um projeto único formado por pequenas e grandes obras, movidos
pela força extraordinária que é o Amor.
Chegaram, então, a um ponto da grande
obra onde o Empreiteiro mostrou no que o nosso jovem arquiteto já tinha
contribuído, mesmo sem saber, na grande construção. Era apenas uma sala, onde
estava uma escrivaninha e uma pilha de livros.
Nosso amigo, sem compreender como havia
construído aquilo, questionou o Grande Empreiteiro, querendo saber também o que
significava. O Empreiteiro respondeu:
˗ Adquiriste até aqui um valiosíssimo
conhecimento e valorizaste, até então, tua intelectualidade. Construíste isto
usando aquilo que tu sabes para educares e trazeres crianças para minha
construção. Mas eu não quero que continues sozinho.
Após falar isto, o levou para um enorme
condomínio em construção, onde todos os que nele trabalhavam, mesmo com seus
traços particulares, entravam em harmonia na construção de casas parecidas e
unidas umas com as outras, como que conjugadas. Então o Empreiteiro falou:
˗ É aqui que eu quero que tu trabalhes.
Todos estes homens têm jeitos diferentes de ser, mas unem seus esforços para
construírem um condomínio na minha grande obra.
O jovem arquiteto olhou ao seu redor e
viu que havia outras obras construídas com a mesma forma de trabalho, mas com
características totalmente diferentes e igualmente belas. Observou-as,
admirou-as e, voltando-se para o condomínio indicado pelo Grande Empreiteiro
começou a trabalhar.
Viu que o trabalho exigia muitos
esforços, ele errava muito, mas era sempre auxiliado pelos seus irmãos que
trabalhavam na construção. Antes de voltar, o Grande Empreiteiro chamou-o e
disse-lhe:
˗ Não te preocupes com teus erros, meu
filho é o mestre de obras desta grande construção, ele vai te orientar. Ele
mesmo, obedecendo a mim, iniciou esta obra, e dá a vida por ela e pelos seus
trabalhadores. Por ele, estarei contigo sempre.
Assim, nosso jovem arquiteto continua
seu trabalho, colocando seus traços na grande obra. Encontrou novos amigos,
verdadeiros irmãos. Alguns já haviam construído grandes obras fora da obra do
Grande Empreiteiro, tinham tudo para, assim como a grande maioria das pessoas,
contribuírem de forma menos radical na construção. No entanto, largaram tudo e
vieram entregar-se integralmente à obra do Grande Empreiteiro.
Durante seu trabalho, o nosso jovem
arquiteto viu alguns dos seus irmãos deixarem o trabalho incompleto e voltarem
para seus projetos de vida originais. Outros, não construíam direito e sempre
deixavam lacunas nos trabalhos que faziam. Mas existiam aqueles que se
mostravam verdadeiros trabalhadores, esforçados e animados. Eram estes que
traziam notáveis desenvolvimentos para a grande construção.
Até hoje o nosso amigo está
trabalhando, caindo, levantando, buscando aperfeiçoar-se para construir uma
magnífica obra que ele nem sabe se vai ver concluída, assim como muitos outros
que lá estão, mas na qual ele tem a certeza de estar sua realização plena e o
sentido real de sua existência. Ainda está no início de tudo o que vai
construir para contribuir com a grande obra de muitas moradas do Grande
Empreiteiro.
O nome desta grande construção está
escrito em um livro enorme que serve de porta para esta verdadeira cidade da
paz. Ele é:
“REINO DE DEUS”
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