Profissão Religiosa Salesiana
Curitiba
31 de janeiro de 2013
Hoje é um dia
de festa para a Igreja e para o mundo. Celebramos o Santo dos jovens, “São João
Bosco”, o Pai e Mestre que entregou a sua vida inteira para que seus jovens
pobres tivessem vida em abundância.
E nós fazemos
festa participando das primeiras profissões destes 20 jovens das Inspetorias de
Porto Alegre, Recife e São Paulo, que respondem com alegria a Deus que os
chamou à vida desde o seio de suas mães, à vida cristã com a água do batismo e,
agora, os consagra para serem totalmente dele.
“Não temas!
Chamei-te pelo nome: tu és meu!”
São palavras
do profeta Isaías, que deverão orientar a vida de vocês. Porque Deus os amou
por primeiro, agora, os consagra e envia para serem homens de Deus entre os
jovens.
Nós,
salesianos, estamos nos preparando para celebrar o bicentenário do nascimento
de Dom Bosco. Vocês são os novos salesianos deste bicentenário.

O mundo mudou.
A Congregação
mudou.
Mas o amor de
Deus não muda nunca. O Evangelho não muda, o amor do Pai não muda.
O que deve
mudar é a nossa resposta, para que o seu evangelho de salvação possa chegar
ainda hoje ao mundo inteiro, aos jovens do Brasil.
Como
autênticos seguidores de Cristo, vocês assumem o projeto apostólico de Dom
Bosco para serem testemunhas radicais e, como “novos” salesianos, místicos,
profetas e servos.
Esta é a
reflexão que a Congregação inteira fará em vista do Capítulo Geral 27. Por
isso, também vocês são chamados a esta renovação para serem salesianos novos,
com a paixão apostólica de Dom Bosco.
Para isso,
precisam de três coisas.
1. Ser homens de Deus: salesianos místicos
Isaías afirma:
“Não temas: eu te resgatei, te chamei pelo nome, e és meu; não temas: eu estou
contigo” (Is 43,1-7).
Para um
consagrado, o fundamento de sua vida
está em Deus. “Evangelizar é, antes de tudo, dar testemunho, de maneira
simples e direta do Deus revelado por Jesus Cristo mediante o Espírito Santo”
(EM 26).
A partir da
ótica da missão, a consagração abrange a pessoa inteira e todos os aspectos
importantes do seguimento de Cristo. Consagração é oração, é missão, é vida
comunitária; consagração é estar com os jovens no mundo em que eles vivem.
A pergunta,
então, que nos colocamos é esta: Como podem ser homens de Deus na vida diária?
Creio que muitos consagrados se enganaram ao interpretar que o definitivo em
nossa vocação era somente trabalhar pelo Reino de Deus, da manhã à noite.
Transformaram-se em “funcionários” da Igreja, em “administradores eficientes”
do Reino. Contudo, esqueceram-se do Deus do Reino.
Se o trabalho
não for acompanhado de uma vida entregue por amor, pode converter-se numa catarata
de palavras que soam bem, mas são ocas, porque não são impregnadas do fogo do
amor.
Não é possível ser homem de Deus e descobri-lo em
todas as coisas sem olhos impregnados de fé e de amor.
Não é possível ser contemplativo na ação sem antes ser
contemplativo na oração.
Sendo contemplativo na oração, podem ser
contemplativos também na ação.
Deus não pode
ser visto diretamente nas pessoas e nas coisas. As pessoas e as coisas podem
converter-se em sinal da presença amorosa de Deus, quando Ele já foi descoberto
na intimidade da oração pessoal.
Os discípulos,
depois da Ressurreição de Jesus, não foram capazes de reconhecer a Cristo à
primeira vista, apesar de estarem falando com Ele.
Maria Madalena
chorava sua ausência; Jesus se apresenta e ela o confunde com o jardineiro.
Os discípulos
de Emaús partilham com Ele várias horas e o confundem com um viajante qualquer.
Os Apóstolos
ouvem sua voz quando da praia ele pergunta se pescaram alguma coisa e o
confundem com um intruso que lhes dá conselhos errados.
Só o reconhecem quando Jesus repete o sinal que os
transfere ao mundo da fé e descobre para eles a realidade oculta de sua
presença. Os discípulos de Emaús o reconhecem ao partir o pão,
porque em outras ocasiões, Ele tinha feito esse sinal. Os Apóstolos o reconhecem
quando lhes diz que lancem a rede à direita, porque em outra ocasião, fez um
milagre com essas mesmas palavras. E Maria Madalena o reconhece quando Jesus a
chama “Maria” no mesmo tom de voz com que ela havia saboreado a ternura da sua
presença.
Não é fácil descobrir Deus presente nas pessoas e na
realidade se não se traz aceso interiormente o fogo do seu amor.
Jesus não é
reconhecido na vida, se Ele não foi conhecido e saboreado anteriormente na
tonalidade da sua voz, de seus gestos e palavras em longas horas de
contemplação. A contemplação na oração pessoal é o que faz crescer na fé e no
amor, o que faz caminhar até a identificação de critérios, atitudes e
sentimentos com o Amado, aquele que introduz no diálogo interior e submerge no
Mistério do Deus inacessível.
Em seguida,
virá o momento da comunicação expansiva e do compromisso com o irmão, da ação
apostólica, do encontro com Deus na vida, e de uma nova dimensão contemplativa.
Torna-se,
então, indispensável, a necessidade de ser contemplativo na oração para nos
encontrarmos com Deus na vida e na atividade apostólica. A contemplação pessoal na oração é a fonte enquanto a contemplação na
ação é o rio. Secando-se a fonte, seca-se o rio. Se a fonte é abundante e
contínua, o rio estende-se e fecunda a vida.
Por isso, Deus
repete as mesmas palavras de Isaías: “Não temam, porque eu os resgatei, os
chamei por seus nomes e agora vocês são meus. Não temam, porque eu estou com
vocês”.
2. Ser homens de Deus para os jovens: salesianos
servos
Deus os chamou
para serem homens de Deus e os envia aos jovens.
Ser de Deus
significa pertencer aos jovens.
A contemplação
de Deus leva-os a estar com os jovens e entregar a própria vida a eles.
Maria
reconheceu a Deus primeiramente no anúncio do Anjo, meditou em suas palavras,
conservou-as no seu coração, porque a razão não conseguia entendê-las. Passou
muito tempo na contemplação dessas palavras; depois – a contemplação do Amado –
levou-a a visitar sua prima Isabel.
Ser homens de Deus
para os jovens significa ser “pais” no sentido mais forte da palavra: amar os
jovens com ternura, estar com eles, vê-los crescer, educá-los no amor que se
entrega, no sacrifício de si, no esforço diário. Lembrem-se de que Deus é pai e
educa com coração de mãe.
Ser homens de
Deus para os jovens significa ser seus amigos:
conhecer a juventude do Brasil de hoje, estar em sintonia com ela, aceitar o
que for bom, ser otimista, crer que Deus ainda está presente em nosso mundo.
Ser homens de
Deus para os jovens significa ser seus companheiros
de viagem: ou seja, caminhar com os jovens de hoje pelos caminhos da graça
e do pecado; o que significa que devem estar sempre em pé, não sentados em seus
quartos ou escritórios e ver passar os jovens como numa vitrine, mas estar com
eles, acompanhá-los, estar sempre ao lado deles; nem atrás, nem à frente, mas
ao lado, sempre próximo.
3. Ser homens de Deus para os jovens em comunidades
fraternas: salesianos profetas
Façam da
comunidade a casa de vocês. Retornem com alegria para casa depois de um dia de
trabalho. “Viver e trabalhar juntos” é uma condição essencial que garante um
caminho seguro para realizar a nossa vocação (cf. Const. 49).
Considerem os seus
irmãos e comunidade como “companheiros” de viagem, que é preciso conhecer, amar
e carregar nos ombros, se for necessário. Os irmãos não pesam, são nossos
irmãos.
O dia da
comunidade não é um dia que tiramos aos jovens. É um dia para rezar juntos,
projetar juntos e experimentar juntos o amor de Deus.
Façam da
própria comunidade salesiana uma família na qual o amor é o centro que une e
faz desaparecer as diferenças humanas e culturais, que se possam ter. Uma
comunidade sem comunhão e sem afeto não é uma comunidade salesiana. Por outro
lado, a comunhão sem comunidade é uma forma narcisista de viver a vida, é
individualismo.
Não há
fraternidade verdadeira sem qualidade humana, espiritualidade vivida e
dedicação apostólica.
A comunidade religiosa é, ainda, uma grande contribuição que oferecemos
a um mundo dividido pela injustiça social, pelos conflitos interétnicos e por
certos modelos sociais, culturais e econômicos que estão destruindo a
solidariedade e hipotecando para sempre a fraternidade. Deus é comunidade. Deus
é amor. Eis a boa notícia! Eis o quanto somos chamados a oferecer para a
humanização do mundo.
Quero agradecer, sobretudo, aos pais destes jovens. Caríssimas mães e
caríssimos pais: vocês são os primeiros colaboradores de Deus e de Dom Bosco.
Sem o seu amor e a sua generosidade a Congregação salesiana não existiria.
Obrigado, em nome de Dom Bosco e do Reitor-Mor!
Quero repetir para vocês o que Dom Bosco dizia: “Quando um jovem,
obedecendo a Deus e à vocação, deixa a própria família, Jesus toma pessoalmente
o seu lugar na família”. Vocês deram um filho a Deus e à Congregação com
generosidade. Jesus ocupa o lugar dele.
Caríssimos noviços: a vocação é um dom, a formação é uma tarefa que dura
toda a vida. O Noviciado não termina hoje com a primeira profissão. A formação
continua agora no pós-noviciado e continuará a vida toda.
A vocação é um dom de Deus que chama todos os dias.
A formação é tarefa de cada um de vocês. Não existe o salesiano, ele se
forma todos os dias e se conforma todos os dias com Cristo Bom Pastor. É a
tarefa de cada um de vocês, de cada irmão, da Inspetoria e da Congregação.
“Configurar-se a Cristo e dar a vida pelos jovens, como Dom Bosco” é, em
síntese, “a vocação salesiana de vocês”, a sua identidade. “A formação inteira
– inicial e permanente – consiste em assumir e tornar real essa identidade na
vida de vocês”. A identidade salesiana é “o coração de toda a sua formação
salesiana”, a sua norma e a sua meta.
A Virgem Maria, que é a Virgem da fidelidade, os acompanhe sempre nos
dias de cruz e nos dias de alegria da Ressurreição. A fidelidade, agora, é o
esforço de todos vocês. É a sua alegria. É a sua cruz.
Desejo-lhes o que dizia o meu Mestre de Noviços: “Que o nome de vocês
seja inscrito no necrológio salesiano”.
Assim seja.
Homilia de P. Natale Vitali Forti
Regional