Profissão Religiosa Salesiana
Curitiba
31 de janeiro de 2013
Hoje é um dia
de festa para a Igreja e para o mundo. Celebramos o Santo dos jovens, “São João
Bosco”, o Pai e Mestre que entregou a sua vida inteira para que seus jovens
pobres tivessem vida em abundância.
E nós fazemos
festa participando das primeiras profissões destes 20 jovens das Inspetorias de
Porto Alegre, Recife e São Paulo, que respondem com alegria a Deus que os
chamou à vida desde o seio de suas mães, à vida cristã com a água do batismo e,
agora, os consagra para serem totalmente dele.
“Não temas!
Chamei-te pelo nome: tu és meu!”
São palavras
do profeta Isaías, que deverão orientar a vida de vocês. Porque Deus os amou
por primeiro, agora, os consagra e envia para serem homens de Deus entre os
jovens.
Nós,
salesianos, estamos nos preparando para celebrar o bicentenário do nascimento
de Dom Bosco. Vocês são os novos salesianos deste bicentenário.
Já se passaram
muitos anos desde aquele 19 de dezembro de 1859, quando Dom Bosco chamou
pessoalmente 17 jovens do seu oratório para serem os primeiros salesianos.
O mundo mudou.
A Congregação
mudou.
Mas o amor de
Deus não muda nunca. O Evangelho não muda, o amor do Pai não muda.
O que deve
mudar é a nossa resposta, para que o seu evangelho de salvação possa chegar
ainda hoje ao mundo inteiro, aos jovens do Brasil.
Como
autênticos seguidores de Cristo, vocês assumem o projeto apostólico de Dom
Bosco para serem testemunhas radicais e, como “novos” salesianos, místicos,
profetas e servos.
Esta é a
reflexão que a Congregação inteira fará em vista do Capítulo Geral 27. Por
isso, também vocês são chamados a esta renovação para serem salesianos novos,
com a paixão apostólica de Dom Bosco.
Para isso,
precisam de três coisas.
1. Ser homens de Deus: salesianos místicos
Isaías afirma:
“Não temas: eu te resgatei, te chamei pelo nome, e és meu; não temas: eu estou
contigo” (Is 43,1-7).
Para um
consagrado, o fundamento de sua vida
está em Deus. “Evangelizar é, antes de tudo, dar testemunho, de maneira
simples e direta do Deus revelado por Jesus Cristo mediante o Espírito Santo”
(EM 26).
A partir da
ótica da missão, a consagração abrange a pessoa inteira e todos os aspectos
importantes do seguimento de Cristo. Consagração é oração, é missão, é vida
comunitária; consagração é estar com os jovens no mundo em que eles vivem.
A pergunta,
então, que nos colocamos é esta: Como podem ser homens de Deus na vida diária?
Creio que muitos consagrados se enganaram ao interpretar que o definitivo em
nossa vocação era somente trabalhar pelo Reino de Deus, da manhã à noite.
Transformaram-se em “funcionários” da Igreja, em “administradores eficientes”
do Reino. Contudo, esqueceram-se do Deus do Reino.
Se o trabalho
não for acompanhado de uma vida entregue por amor, pode converter-se numa catarata
de palavras que soam bem, mas são ocas, porque não são impregnadas do fogo do
amor.
Não é possível ser homem de Deus e descobri-lo em
todas as coisas sem olhos impregnados de fé e de amor.
Não é possível ser contemplativo na ação sem antes ser
contemplativo na oração.
Sendo contemplativo na oração, podem ser
contemplativos também na ação.
Deus não pode
ser visto diretamente nas pessoas e nas coisas. As pessoas e as coisas podem
converter-se em sinal da presença amorosa de Deus, quando Ele já foi descoberto
na intimidade da oração pessoal.
Os discípulos,
depois da Ressurreição de Jesus, não foram capazes de reconhecer a Cristo à
primeira vista, apesar de estarem falando com Ele.
Maria Madalena
chorava sua ausência; Jesus se apresenta e ela o confunde com o jardineiro.
Os discípulos
de Emaús partilham com Ele várias horas e o confundem com um viajante qualquer.
Os Apóstolos
ouvem sua voz quando da praia ele pergunta se pescaram alguma coisa e o
confundem com um intruso que lhes dá conselhos errados.
Só o reconhecem quando Jesus repete o sinal que os
transfere ao mundo da fé e descobre para eles a realidade oculta de sua
presença. Os discípulos de Emaús o reconhecem ao partir o pão,
porque em outras ocasiões, Ele tinha feito esse sinal. Os Apóstolos o reconhecem
quando lhes diz que lancem a rede à direita, porque em outra ocasião, fez um
milagre com essas mesmas palavras. E Maria Madalena o reconhece quando Jesus a
chama “Maria” no mesmo tom de voz com que ela havia saboreado a ternura da sua
presença.
Não é fácil descobrir Deus presente nas pessoas e na
realidade se não se traz aceso interiormente o fogo do seu amor.
Jesus não é
reconhecido na vida, se Ele não foi conhecido e saboreado anteriormente na
tonalidade da sua voz, de seus gestos e palavras em longas horas de
contemplação. A contemplação na oração pessoal é o que faz crescer na fé e no
amor, o que faz caminhar até a identificação de critérios, atitudes e
sentimentos com o Amado, aquele que introduz no diálogo interior e submerge no
Mistério do Deus inacessível.
Em seguida,
virá o momento da comunicação expansiva e do compromisso com o irmão, da ação
apostólica, do encontro com Deus na vida, e de uma nova dimensão contemplativa.
Torna-se,
então, indispensável, a necessidade de ser contemplativo na oração para nos
encontrarmos com Deus na vida e na atividade apostólica. A contemplação pessoal na oração é a fonte enquanto a contemplação na
ação é o rio. Secando-se a fonte, seca-se o rio. Se a fonte é abundante e
contínua, o rio estende-se e fecunda a vida.
Por isso, Deus
repete as mesmas palavras de Isaías: “Não temam, porque eu os resgatei, os
chamei por seus nomes e agora vocês são meus. Não temam, porque eu estou com
vocês”.
2. Ser homens de Deus para os jovens: salesianos
servos
Deus os chamou
para serem homens de Deus e os envia aos jovens.
Ser de Deus
significa pertencer aos jovens.
A contemplação
de Deus leva-os a estar com os jovens e entregar a própria vida a eles.
Maria
reconheceu a Deus primeiramente no anúncio do Anjo, meditou em suas palavras,
conservou-as no seu coração, porque a razão não conseguia entendê-las. Passou
muito tempo na contemplação dessas palavras; depois – a contemplação do Amado –
levou-a a visitar sua prima Isabel.
Ser homens de Deus
para os jovens significa ser “pais” no sentido mais forte da palavra: amar os
jovens com ternura, estar com eles, vê-los crescer, educá-los no amor que se
entrega, no sacrifício de si, no esforço diário. Lembrem-se de que Deus é pai e
educa com coração de mãe.
Ser homens de
Deus para os jovens significa ser seus amigos:
conhecer a juventude do Brasil de hoje, estar em sintonia com ela, aceitar o
que for bom, ser otimista, crer que Deus ainda está presente em nosso mundo.
Ser homens de
Deus para os jovens significa ser seus companheiros
de viagem: ou seja, caminhar com os jovens de hoje pelos caminhos da graça
e do pecado; o que significa que devem estar sempre em pé, não sentados em seus
quartos ou escritórios e ver passar os jovens como numa vitrine, mas estar com
eles, acompanhá-los, estar sempre ao lado deles; nem atrás, nem à frente, mas
ao lado, sempre próximo.
3. Ser homens de Deus para os jovens em comunidades
fraternas: salesianos profetas
Façam da
comunidade a casa de vocês. Retornem com alegria para casa depois de um dia de
trabalho. “Viver e trabalhar juntos” é uma condição essencial que garante um
caminho seguro para realizar a nossa vocação (cf. Const. 49).
Considerem os seus
irmãos e comunidade como “companheiros” de viagem, que é preciso conhecer, amar
e carregar nos ombros, se for necessário. Os irmãos não pesam, são nossos
irmãos.
O dia da
comunidade não é um dia que tiramos aos jovens. É um dia para rezar juntos,
projetar juntos e experimentar juntos o amor de Deus.
Façam da
própria comunidade salesiana uma família na qual o amor é o centro que une e
faz desaparecer as diferenças humanas e culturais, que se possam ter. Uma
comunidade sem comunhão e sem afeto não é uma comunidade salesiana. Por outro
lado, a comunhão sem comunidade é uma forma narcisista de viver a vida, é
individualismo.
Não há
fraternidade verdadeira sem qualidade humana, espiritualidade vivida e
dedicação apostólica.
A comunidade religiosa é, ainda, uma grande contribuição que oferecemos
a um mundo dividido pela injustiça social, pelos conflitos interétnicos e por
certos modelos sociais, culturais e econômicos que estão destruindo a
solidariedade e hipotecando para sempre a fraternidade. Deus é comunidade. Deus
é amor. Eis a boa notícia! Eis o quanto somos chamados a oferecer para a
humanização do mundo.
Quero agradecer, sobretudo, aos pais destes jovens. Caríssimas mães e
caríssimos pais: vocês são os primeiros colaboradores de Deus e de Dom Bosco.
Sem o seu amor e a sua generosidade a Congregação salesiana não existiria.
Obrigado, em nome de Dom Bosco e do Reitor-Mor!
Quero repetir para vocês o que Dom Bosco dizia: “Quando um jovem,
obedecendo a Deus e à vocação, deixa a própria família, Jesus toma pessoalmente
o seu lugar na família”. Vocês deram um filho a Deus e à Congregação com
generosidade. Jesus ocupa o lugar dele.
Caríssimos noviços: a vocação é um dom, a formação é uma tarefa que dura
toda a vida. O Noviciado não termina hoje com a primeira profissão. A formação
continua agora no pós-noviciado e continuará a vida toda.
A vocação é um dom de Deus que chama todos os dias.
A formação é tarefa de cada um de vocês. Não existe o salesiano, ele se
forma todos os dias e se conforma todos os dias com Cristo Bom Pastor. É a
tarefa de cada um de vocês, de cada irmão, da Inspetoria e da Congregação.
“Configurar-se a Cristo e dar a vida pelos jovens, como Dom Bosco” é, em
síntese, “a vocação salesiana de vocês”, a sua identidade. “A formação inteira
– inicial e permanente – consiste em assumir e tornar real essa identidade na
vida de vocês”. A identidade salesiana é “o coração de toda a sua formação
salesiana”, a sua norma e a sua meta.
A Virgem Maria, que é a Virgem da fidelidade, os acompanhe sempre nos
dias de cruz e nos dias de alegria da Ressurreição. A fidelidade, agora, é o
esforço de todos vocês. É a sua alegria. É a sua cruz.
Desejo-lhes o que dizia o meu Mestre de Noviços: “Que o nome de vocês
seja inscrito no necrológio salesiano”.
Assim seja.
Homilia de P. Natale Vitali Forti
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