...”escreveram
essas experiências para que servissem de flecha que aponta a salvação, a
verdade, mas no momento em que eles a conheceram ficaram conscientes deste conhecer a Verdade...”
Muitos
foram os santos que escreveram um itinerário da busca da santidade. Gravaram no
papel suas experiências, seus encontros com Cristo, o caminho percorrido para
que outros pudessem imitar o mesmo caminho.
O
encontro pessoal em vista do autoconhecimento é um propósito de olhar o íntimo
com tudo que o há, sejam as virtudes ou os defeitos, e buscar configurar-se a
Cristo. O configurar-se a Cristo é imitar seus gestos de amor, é idealizar o
encontro da amada com o amado:
Oh!
Noite que guiaste,
Oh!
Noite mais amável que a alvorada;
Oh!
Noite que juntaste,
Amado
com amada,
Amada
já no Amado transformada!
Das
Canções de São João da Cruz
Seus
escritos não são vencidos, nem mesmo possuem prazo de validade, pois, se fosse
assim, poderia jogar fora os livros espirituais, filosóficos, teológicos,
constitucionais e tantos outros. Também não podem ser considerados para aquele tempo. Claro que o seu
auge foi naquele tempo, mas ainda podem clarear o caminho de muitos.
Para
melhor explicação utilizarei apenas do prólogo da “Subida do Monte Carmelo” de
São João da Cruz. “As ditosas almas destinadas a chegar a este estado de
perfeição devem, de ordinário, afrontar travas tão profundas, suportar
sofrimentos físicos e morais tão dolorosos, que a inteligência humana é incapaz
de compreendê-los e a palavra de exprimi-los. Somente aquele que passa por isso
saberá senti-lo, sem, todavia, poder defini-lo.” Chamaria isso de vivência do
amor com Deus.
A
alma que percorre o caminho de subida do monte tem em vista o “estado de
perfeição” ou de “união da alma com Deus”. Percorrer o caminho traçado por João
da Cruz não significa ter os mesmos sentimentos, a mesma fé. Uns caminham a
passos largos outros engatinham. Faça o exercício de acompanhar três pessoas no
retorno para casa e saberás que percorrem caminhos diferentes, com paradas
estratégicas, que podem cair.
...”Apoiar-me-ei
na Sagrada Escritura: tomando-a por guia, não há perigo de engano, pois nela
fala o Espírito Santo.” Realmente, ter a Palavra de Deus como luz é falar a
Cristo: Tu és o meu caminho, a minha verdade e luz. É confiar em Deus e São
João da Cruz bem soube fazer: “Se me decido a este trabalho, não é por crer-me
capaz de tratar de assunto tão árduo, mas confiando em que o Senhor me ajudará
a dizer alguma coisa, para proveito de grande número de almas muito
necessitadas”. Note que ele recebe de Deus a capacidade der ser sensível com as
pessoas, isso por ser sensível antes a Deus.
A
subida do monte exige ânimo, renúncias, desapegos, deixar-se guiar por Deus e
por guia espiritual que já tendo subido ao monte desce para orientar. Entregando
sua vontade a de Deus e não impondo limites, dando passos de um adulto maduro e
decidido e não de uma criança mimada.
São
João quer ensinar “a alma a deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus”, pois ele
tem consciência de que podemos ser “faltos de luz” e ainda ser orientado por
confessores e guias espirituais “faltos de luz e experiência nestes caminhos”
conduzindo a alma ao prejuízo. “E doloroso para a alma não se compreender e não
achar quem a compreenda nestes tempos de depressão”.
Existem
pessoas que são flechas que apontam para Cristo e outras que apontam para o
inferno. Claro que a alma sem muita orientação pode acabar caindo em caminhos
bonitos que aparentam ser santificantes, mas são falsos, pois enganam e apontam
para o tropeço e a queda.
A
subida do monte Carmelo, conduz à noite escura, para chegar à perfeita união
com Deus. São João, ao encerrar o
prólogo, afirma que, “não é, alias,
meu principal intento dirigir-me a todos”, pois algumas “já se acham
desapegados das coisas do mundo, compreenderão melhor a doutrina da desnudez do
espírito”.
Portanto,
trilhar ou criar novos caminhos, novas subidas ao monte é ter perante os olhos
a união com Deus, encontro com a verdade renovando o modo de subir o monte e
enfrentar a noite escura. Renunciando a si mesmo e tomando a cruz de cada dia
para seguir a Cristo.
No
momento em que os santos conheceram a Cristo ficaram conscientes deste conhecer
a verdade. São João da Cruz ao subir o monte ficou consciente da plena verdade
que transformou sua vida através do encontro com o Amado.
Ter
consciência é perceber que Cristo é a verdade, e isso implica em mudança de
vida, em transfiguração. A partir daí nosso rosto resplandecerá como o sol,
nossas vestes se tornaram brancas como a luz (Cf. Mt 17,2). Comumente temos a
noção, conhecemos superficialmente, que Cristo é a verdade. No entanto, pode
não existir consciência, logo não existe intimidade entre Cristo e a pessoa.
Rodrigo Souza de Souza
Tendo Cristo como centro em nossas vidas, jamais estaremos sozinhos
ResponderExcluirNosso ápice é e deve sempre ser Cristo.
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