sábado, 24 de novembro de 2012

Salesianidade


ESTREIA 2013

"Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!" (Fl 4:4)

 Como Dom Bosco educador,
ofereçamos aos jovens o Evangelho da alegria
mediante a pedagogia da bondade


Caríssimos Irmãos e Irmãs da Família Salesiana,
Depois de ter centrado a atenção na história de Dom Bosco e procurado compreender melhor a sua vida, marcada pela predileção pelos jovens, a Estreia 2013 tem por objetivo aprofundar a sua proposta educativa. Concretamente, queremos aproximar-nos de Dom Bosco educador. Trata-se, pois, de aprofundar e atualizar o Sistema Preventivo.
Também nesta tarefa, a nossa abordagem não é apenas intelectual. Por um lado, é certamente necessário um estudo aprofundado da pedagogia salesiana, para atualizá-la segundo a sensibilidade e as exigências do nosso tempo. Hoje, de fato, os contextos sociais, econômicos, culturais, políticos, religiosos, nos quais estamos a viver a vocação e a realização da missão salesiana, estão profundamente alterados. Por outro lado, para uma fidelidade carismática ao nosso Pai, é igualmente necessário fazer nosso o conteúdo e o método da sua oferta educativa e pastoral. No contexto da sociedade atual, somos chamados a sermos santos educadores como ele, entregando como ele a nossa vida, trabalhando com e pelos jovens.

À REDESCOBERTA DO SISTEMA PREVENTIVO

Ao repensar a experiência educativa de Dom Bosco, somos chamados hoje a privilegiá-la com fidelidade. Ora, para uma correta atualização do Sistema Preventivo, mais do que pensar imediatamente em programas, fórmulas, ou insistir em slogans genéricos e bons para todas as estações, o nosso esforço hoje será, antes de tudo, o da compreensão histórica do método de Dom Bosco. Trata-se, em concreto, de analisar como foi diversificada a sua ação pelos jovens, pelo povo, pela Igreja, pela sociedade, pela vida religiosa, e também como foi diversificado o seu modo de educar os jovens do primeiro Oratório festivo, do pequeno seminário de Valdocco, dos clérigos salesianos e não salesianos, dos missionários. Pode-se observar, porém, como já estivessem presentes no primeiro Oratório da casa Pinardi algumas intuições importantes que serão em seguida conquistadas em seu valor mais profundo de complexa síntese humanístico-cristã:
uma estrutura flexível, qual obra de mediação entre Igreja, sociedade urbana e faixas populares juvenis;
o respeito e a valorização do ambiente popular;
a religião como fundamento da educação, segundo o ensinamento da pedagogia católica transmitida a ele pelo ambiente do Colégio Eclesiástico;
o entrelaçamento dinâmico entre formação religiosa e desenvolvimento humano, entre catequese e educação;
a convicção de que a instrução constitui o instrumento essencial para iluminar a mente;
a educação, assim como a catequese, que se desenvolve em todas as expressões compatíveis com a escassez de tempo e recursos;
a plena ocupação e valorização do tempo livre;
a cordialidade como estilo educativo e, mais em geral, como estilo de vida cristã.

Uma vez conhecido corretamente o passado histórico, é preciso traduzir para hoje as grandes intuições e virtualidades do Sistema Preventivo. É preciso modernizar os seus princípios, conceitos, orientações originárias, reinterpretando no plano teórico e prático tanto as grandes ideias de fundo, quanto as grandes orientações de método. Tudo isso em vista da formação de jovens "novos" do século XXI, chamados a viver e confrontar-se com uma vastíssima e inédita gama de situações e problemas, em tempos decisivamente alterados, nos quais as próprias ciências humanas estão em fase de reflexão crítica.
Desejo, de modo particular, sugerir três perspectivas, analisando mais profundamente a primeira delas.

1. O relançamento do "honesto cidadão" e do "bom cristão"

Num mundo profundamente alterado em relação ao do século XIX, atuar a caridade segundo critérios angustos, locais, pragmáticos, esquecendo as mais amplas dimensões do bem comum, de alcance nacional e mundial, seria uma grave lacuna de ordem sociológica e também teológica. Conceber a caridade apenas como esmola, como auxílio emergencial, significa correr o risco de mover-se no âmbito de um "falso samaritanismo".
É-nos imposta, portanto, uma reflexão profunda, primeiramente em nível especulativo. Ela deve estender a sua consideração a todos os conteúdos relativos ao tema da promoção humana, juvenil, popular, dando atenção, ao mesmo tempo, às diversas considerações qualificadas filosófico-antropológicas, teológicas, científicas, históricas, metodológicas que sejam pertinentes. Esta reflexão deve, pois, concretizar-se no plano da experiência e da reflexão operativa dos indivíduos e das comunidades.
Devemos caminhar na direção de uma reconfirmação atualizada da "opção sociopolítica-educativa" de Dom Bosco. O que não significa promover um ativismo ideológico, ligado a certas escolhas político-partidárias, mas formar para uma sensibilidade social e política, que leve, em todo caso, a investir a própria vida pelo bem da comunidade social, empenhando a vida como missão, com uma referência constante aos inalienáveis valores humanos e cristãos. Dito em outros termos, a reconsideração da qualidade social da educação deveria incentivar a criação de experiências explícitas de empenho social no sentido mais amplo.

Perguntemo-nos: a Congregação Salesiana, a Família Salesiana, as nossas Inspetorias, grupos e casas estão fazendo todo o possível nessa direção? A sua solidariedade com a juventude é apenas um ato de fato, gesto de entrega, ou também contribuição de competência, resposta racional, adequada e pertinente às necessidades dos jovens e das classes sociais mais frágeis?

Dever-se-ia dizer o mesmo do relançamento do "bom cristão". Dom Bosco, "inflamado" de zelo pelas almas, compreendeu a ambiguidade e a periculosidade da situação, contestou os seus pressupostos, encontrou formas novas de opor-se ao mal, embora com a escassez de recursos (culturais, econômicos...) de que dispunha. Trata-se de revelar e ajudar a viver conscientemente a vocação de homem, a verdade da pessoa. E, justamente nisso, os crentes podem dar a sua contribuição mais preciosa.
Como, porém, atualizar o "bom cristão" de Dom Bosco? Como salvaguardar hoje a totalidade humano-cristã do projeto em iniciativas formal ou prevalentemente religiosas e pastorais, contra os perigos de antigos e novos integrismos e exclusivismos? Como transformar a educação tradicional, cujo contexto era uma "sociedade monorreligiosa", numa educação aberta e ao mesmo tempo crítica diante do pluralismo contemporâneo? Como educar e viver autonomamente e ao mesmo tempo participar de um mundo plurirreligioso, pluricultural, pluriétnico? Diante da atual superação da pedagogia tradicional da obediência, adequada a certo tipo de eclesiologia, como promover a pedagogia da liberdade e da responsabilidade, que se dirige à construção de pessoas responsáveis, capazes de decisões livres maduras, abertas à comunicação interpessoal, inseridas ativamente nas estruturas sociais, em atitude não conformista, mas construtivamente crítica?

2. Retornar aos jovens com maior qualificação

Foi entre os jovens que Dom Bosco elaborou o seu estilo de vida, o seu patrimônio pastoral e pedagógico, o seu sistema, a sua espiritualidade. Missão salesiana é consagração, é "predileção" pelos jovens e tal predileção, no seu estado inicial, nós o sabemos, é um dom de Deus, mas cabe à nossa inteligência e ao nosso coração desenvolvê-la e aperfeiçoá-la.
Para ser incisiva, a fidelidade à missão, portanto, deve ser posta em contato com os "nós" da cultura de hoje, com as matrizes da mentalidade e dos comportamentos atuais. Estamos diante de desafios realmente grandes, que exigem seriedade de análise, pertinência de observações críticas, confronto cultural profundo, capacidade de compartilhar a situação psicológica e existencialmente. E, para nos limitarmos a algumas questões:

Quem são exatamente os jovens aos quais "consagramos" a nossa vida pessoalmente e em comunidade?
Qual é o nosso profissionalismo pastoral, em nível de reflexão teórica sobre os itinerários educativos e em nível de práxis pastoral?
Hoje, a responsabilidade educativa não pode ser senão coletiva, coral, participada. Qual é, então, o nosso "gancho" com a "rede de relações" no território e também além do território em que vivem os nossos jovens?
Se, às vezes, a Igreja se vê desarmada diante dos jovens, por acaso não o serão também os Salesianos ou a Família Salesiana de hoje?

3. Uma educação de coração

Talvez, nas últimas décadas, as novas gerações salesianas experimentem uma sensação de desorientação diante das antigas formulações do Sistema Preventivo: seja porque não sabem como aplicá-lo hoje, seja porque, inconscientemente, o imaginam como "relação paternalista" com os jovens. Quando, porém, contemplamos Dom Bosco, visto em sua realidade vivida, descobrimos nele uma superação instintiva e genial do paternalismo educativo inculcado por séculos por grande parte da pedagogia anterior a ele (séculos XVI-XVIII).

Podemos perguntar-nos: os jovens e adultos de hoje entram ou podem entrar no coração do educador salesiano? O que eles vão encontrar? Um tecnocrata, um comunicador hábil, mas vazio, ou uma humanidade rica, completa e animada pela Graça de Jesus Cristo, no Corpo Místico etc.?

A partir do conhecimento da pedagogia de Dom Bosco, os grandes pontos de referência e os comprometimentos da Estreia de 2012 são estes:
O 'evangelho da alegria', que caracteriza toda a história de Dom Bosco e é a alma das suas múltiplas atividades. Dom Bosco captou o desejo de felicidade presente nos jovens e harmonizou a sua alegria de viver com as linguagens da alegria, do pátio e da festa; mas jamais deixou de indicar a Deus qual fonte da verdadeira alegria.
A pedagogia da bondade. A amorevolezza de Dom Bosco é, sem dúvida, um traço característico da sua metodologia pedagógica tida também hoje como válida, quer nos contextos ainda cristãos quer naqueles onde vivem jovens pertencentes a outras religiões. Contudo, ela não pode ser reduzida só a um princípio pedagógico, mas deve ser reconhecida como elemento essencial da nossa espiritualidade.
O Sistema Preventivo, que representa a síntese da sabedoria pedagógica de Dom Bosco e constitui a mensagem profética que ele deixou aos seus herdeiros e a toda a Igreja. É uma experiência espiritual e educativa que se funda na razão, na religião e na amorevolezza.
A educação é coisa do coração. "A pedagogia de Dom Bosco, escreveu Pietro Braido, se identifica com toda a sua ação; e toda a sua ação com a sua personalidade; e Dom Bosco inteirinho está concentrado definitivamente em seu coração".[1] Eis a grandeza e o segredo do seu sucesso como educador. "Afirmar que o seu coração fora entregue inteiramente aos jovens, significa dizer que toda a sua pessoa – inteligência, coração, vontade, força física –, todo o seu ser estava orientado para fazer-lhes o bem, promover-lhes o crescimento integral, desejar-lhes a salvação eterna".[2]
A formação do honesto cidadão e do bom cristão. Formar "bons cristãos e honestos cidadãos" é a intencionalidade expressada muitas vezes por Dom Bosco para indicar tudo aquilo que os jovens precisam para viver a própria existência humana e cristã em plenitude. A presença educativa no social compreende, então, estas realidades: sensibilidade educativa, políticas educacionais, qualidade educativa da vivência social, cultura.
Humanismo salesiano. Dom Bosco sabia "valorizar tudo o que há de positivo enraizado na vida das pessoas, nas realidades criadas, nos acontecimentos da história. Isso o levava a perceber os valores autênticos presentes no mundo, sobretudo se agradáveis aos jovens; a inserir-se no fluxo da cultura e do desenvolvimento humano do próprio tempo, estimulando o bem e recusando lamentar-se sobre os males; a sábia busca da cooperação de muitos, convencido de que todos possuem dons a serem descobertos, reconhecidos e valorizados; a crer na força da educação que sustenta o crescimento do jovem e o encoraja a ser cidadão honesto e bom cristão; a entregar-se sempre e em qualquer situação à providência de Deus, percebido e amado como Pai".[3]
Sistema Preventivo e Direitos Humanos. A Congregação não tem motivos de existir se não for para a salvação integral dos jovens. A nossa missão, o evangelho e o nosso carisma pedem-nos hoje para percorrer a estrada dos direitos humanos; trata-se de um itinerário e de uma linguagem novos que não podemos transcurar. O sistema preventivo e os direitos humanos interagem, enriquecendo-se reciprocamente. O sistema preventivo oferece aos direitos humanos uma abordagem educativa única e inovadora em relação ao movimento de promoção e proteção dos direitos humanos. Igualmente, os direitos humanos oferecem ao sistema preventivo novas fronteiras e oportunidades de impacto social e cultural como resposta eficaz ao "drama da humanidade moderna, da fratura entre educação e sociedade, da desconexão entre escola e cidadania".[4]

Para uma compreensão profunda e a atuação dos pontos nodais acima indicados é muito útil ler: O Sistema Preventivo na educação da juventude, a Carta de Roma, as Biografias de Domingos Sávio, Miguel Magone, Francisco Besucco, documentos de Dom Bosco que ilustram perfeitamente tanto a sua experiência educativa como as suas escolhas pedagógicas.

P. Pascual Chávez V., SDB
Reitor-Mor




[1] Cf. P. BRAIDO, Prevenir, não reprimir. O sistema educativo de Dom Bosco. São Paulo: Salesiana, 2004, p. 169.
[2] P. RUFFINATO, Educhiamo con il cuore di Don Bosco, in “Note di Pastorale Giovanile”, n. 6/2007, p. 9.
[3] Cf. Carta de identidade carismática da Família Salesiana, Art. 7. Brasília: Editora Dom Bosco, 2012.
[4] Ver P. CHÁVEZ VILLANUEVA, Educação e cidadania. Lectio Magistralis para o Doutorado Honoris Causa da Universidade dos Estudos. Gênova, 23 de abril de 2007, in "Cadernos Salesianos nova série", 2/2010, p.7-28.


Fonte: SDB.ORG

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