ESTREIA 2013
"Alegrai-vos sempre no
Senhor! Repito: alegrai-vos!" (Fl 4:4)
Como Dom
Bosco educador,
ofereçamos aos jovens o Evangelho da alegria
mediante a pedagogia da bondade
Caríssimos Irmãos e
Irmãs da Família Salesiana,
Depois de ter
centrado a atenção na história de Dom Bosco e procurado compreender melhor a
sua vida, marcada pela predileção pelos jovens, a Estreia 2013 tem por objetivo
aprofundar a sua proposta educativa. Concretamente, queremos aproximar-nos de Dom Bosco educador.
Trata-se, pois, de aprofundar e atualizar o Sistema Preventivo.
Também nesta
tarefa, a nossa abordagem não é apenas intelectual. Por um lado, é certamente
necessário um estudo aprofundado da pedagogia salesiana, para atualizá-la
segundo a sensibilidade e as exigências do nosso tempo. Hoje, de fato, os
contextos sociais, econômicos, culturais, políticos, religiosos, nos quais
estamos a viver a vocação e a realização da missão salesiana, estão
profundamente alterados. Por outro lado, para uma fidelidade carismática ao
nosso Pai, é igualmente necessário fazer nosso o conteúdo e o método da sua
oferta educativa e pastoral. No contexto da sociedade atual, somos chamados a
sermos santos educadores como ele, entregando como ele a nossa vida,
trabalhando com e pelos jovens.
À
REDESCOBERTA DO SISTEMA PREVENTIVO
Ao repensar a
experiência educativa de Dom Bosco, somos chamados hoje a privilegiá-la com
fidelidade. Ora, para uma correta atualização do Sistema Preventivo, mais do
que pensar imediatamente em programas, fórmulas, ou insistir em slogans
genéricos e bons para todas as estações, o nosso esforço hoje será, antes de
tudo, o da compreensão histórica do método de Dom Bosco. Trata-se, em concreto,
de analisar como foi diversificada a sua ação pelos jovens, pelo povo, pela Igreja,
pela sociedade, pela vida religiosa, e também como foi diversificado o seu modo
de educar os jovens do primeiro Oratório festivo, do pequeno seminário de
Valdocco, dos clérigos salesianos e não salesianos, dos missionários. Pode-se
observar, porém, como já estivessem presentes no primeiro Oratório da casa
Pinardi algumas intuições importantes que serão em seguida conquistadas em seu
valor mais profundo de complexa síntese humanístico-cristã:
uma estrutura
flexível, qual obra de mediação entre Igreja, sociedade urbana e faixas
populares juvenis;
o respeito e a
valorização do ambiente popular;
a religião como
fundamento da educação, segundo o ensinamento da pedagogia católica transmitida
a ele pelo ambiente do Colégio Eclesiástico;
o entrelaçamento
dinâmico entre formação religiosa e desenvolvimento humano, entre catequese e
educação;
a convicção de que
a instrução constitui o instrumento essencial para iluminar a mente;
a educação, assim
como a catequese, que se desenvolve em todas as expressões compatíveis com a
escassez de tempo e recursos;
a plena ocupação e
valorização do tempo livre;
a cordialidade como
estilo educativo e, mais em geral, como estilo de vida cristã.
Uma vez conhecido
corretamente o passado histórico, é preciso traduzir para hoje as grandes
intuições e virtualidades do Sistema Preventivo. É preciso modernizar os seus
princípios, conceitos, orientações originárias, reinterpretando no plano
teórico e prático tanto as grandes ideias
de fundo, quanto as grandes orientações de método. Tudo isso em vista da
formação de jovens "novos" do século XXI, chamados a viver e
confrontar-se com uma vastíssima e inédita gama de situações e problemas, em
tempos decisivamente alterados, nos quais as próprias ciências humanas estão em
fase de reflexão crítica.
Desejo, de modo
particular, sugerir três perspectivas, analisando mais profundamente a primeira
delas.
1. O
relançamento do "honesto cidadão" e do "bom cristão"
Num mundo
profundamente alterado em relação ao do século XIX, atuar a caridade segundo critérios
angustos, locais, pragmáticos, esquecendo as mais amplas dimensões do bem
comum, de alcance nacional e mundial, seria uma grave lacuna de ordem
sociológica e também teológica. Conceber a caridade apenas como esmola, como
auxílio emergencial, significa correr o risco de mover-se no âmbito de um
"falso samaritanismo".
É-nos imposta,
portanto, uma reflexão profunda, primeiramente em nível especulativo. Ela deve
estender a sua consideração a todos os conteúdos relativos ao tema da promoção
humana, juvenil, popular, dando atenção, ao mesmo tempo, às diversas
considerações qualificadas filosófico-antropológicas, teológicas, científicas,
históricas, metodológicas que sejam pertinentes. Esta reflexão deve, pois,
concretizar-se no plano da experiência e
da reflexão operativa dos indivíduos e das comunidades.
Devemos caminhar na
direção de uma reconfirmação atualizada
da "opção sociopolítica-educativa" de Dom Bosco. O que não significa
promover um ativismo ideológico, ligado a certas escolhas político-partidárias,
mas formar para uma sensibilidade social e política, que leve, em todo caso, a
investir a própria vida pelo bem da comunidade social, empenhando a vida como
missão, com uma referência constante aos inalienáveis valores humanos e
cristãos. Dito em outros termos, a reconsideração da qualidade social da educação deveria incentivar a criação de
experiências explícitas de empenho social no sentido mais amplo.
Perguntemo-nos: a Congregação Salesiana, a
Família Salesiana, as nossas Inspetorias, grupos e casas estão fazendo todo o
possível nessa direção? A sua solidariedade com a juventude é apenas um ato de
fato, gesto de entrega, ou também contribuição de competência, resposta
racional, adequada e pertinente às necessidades dos jovens e das classes sociais
mais frágeis?
Dever-se-ia dizer o
mesmo do relançamento do "bom cristão". Dom Bosco,
"inflamado" de zelo pelas almas, compreendeu a ambiguidade e a
periculosidade da situação, contestou os seus pressupostos, encontrou formas
novas de opor-se ao mal, embora com a escassez de recursos (culturais,
econômicos...) de que dispunha. Trata-se de revelar e ajudar a viver
conscientemente a vocação de homem, a verdade da pessoa. E, justamente nisso,
os crentes podem dar a sua contribuição mais preciosa.
Como, porém, atualizar
o "bom cristão" de Dom Bosco? Como salvaguardar hoje a totalidade
humano-cristã do projeto em iniciativas formal ou prevalentemente religiosas e
pastorais, contra os perigos de antigos e novos integrismos e exclusivismos?
Como transformar a educação tradicional, cujo contexto era uma "sociedade
monorreligiosa", numa educação aberta e ao mesmo tempo crítica diante do
pluralismo contemporâneo? Como educar e viver autonomamente e ao mesmo tempo
participar de um mundo plurirreligioso, pluricultural, pluriétnico? Diante da
atual superação da pedagogia tradicional da obediência, adequada a certo tipo
de eclesiologia, como promover a pedagogia da liberdade e da responsabilidade,
que se dirige à construção de pessoas responsáveis, capazes de decisões livres
maduras, abertas à comunicação interpessoal, inseridas ativamente nas
estruturas sociais, em atitude não conformista, mas construtivamente crítica?
2. Retornar aos jovens com maior qualificação
Foi entre os jovens
que Dom Bosco elaborou o seu estilo de vida, o seu patrimônio pastoral e
pedagógico, o seu sistema, a sua espiritualidade. Missão salesiana é
consagração, é "predileção" pelos jovens e tal predileção, no seu
estado inicial, nós o sabemos, é um dom de Deus, mas cabe à nossa inteligência
e ao nosso coração desenvolvê-la e aperfeiçoá-la.
Para ser incisiva,
a fidelidade à missão, portanto, deve ser posta em contato com os
"nós" da cultura de hoje, com as matrizes da mentalidade e dos
comportamentos atuais. Estamos diante de desafios realmente grandes, que exigem
seriedade de análise, pertinência de observações críticas, confronto cultural
profundo, capacidade de compartilhar a situação psicológica e existencialmente.
E, para nos limitarmos a algumas questões:
Quem são exatamente os jovens aos quais
"consagramos" a nossa vida pessoalmente e em comunidade?
Qual é o nosso profissionalismo pastoral, em
nível de reflexão teórica sobre os itinerários educativos e em nível de práxis
pastoral?
Hoje, a responsabilidade educativa não pode ser
senão coletiva, coral, participada. Qual é, então, o nosso "gancho"
com a "rede de relações" no território e também além do território em
que vivem os nossos jovens?
Se, às vezes, a Igreja se vê desarmada diante
dos jovens, por acaso não o serão também os Salesianos ou a Família Salesiana
de hoje?
3.
Uma educação de coração
Talvez, nas últimas
décadas, as novas gerações salesianas experimentem uma sensação de
desorientação diante das antigas formulações do Sistema Preventivo: seja porque
não sabem como aplicá-lo hoje, seja porque, inconscientemente, o imaginam como
"relação paternalista" com os jovens. Quando, porém, contemplamos Dom
Bosco, visto em sua realidade vivida, descobrimos nele uma superação instintiva
e genial do paternalismo educativo inculcado por séculos por grande parte da
pedagogia anterior a ele (séculos XVI-XVIII).
Podemos perguntar-nos: os jovens e adultos de
hoje entram ou podem entrar no coração do educador salesiano? O que eles vão
encontrar? Um tecnocrata, um comunicador hábil, mas vazio, ou uma humanidade
rica, completa e animada pela Graça de Jesus Cristo, no Corpo Místico etc.?
A partir do
conhecimento da pedagogia de Dom Bosco, os grandes pontos de referência e os
comprometimentos da Estreia de 2012 são estes:
O 'evangelho
da alegria', que caracteriza
toda a história de Dom Bosco e é a alma das suas múltiplas atividades. Dom
Bosco captou o desejo de felicidade presente nos jovens e harmonizou a sua
alegria de viver com as linguagens da alegria, do pátio e da festa; mas jamais
deixou de indicar a Deus qual fonte da verdadeira alegria.
A
pedagogia da bondade. A amorevolezza de Dom Bosco é, sem dúvida,
um traço característico da sua metodologia pedagógica tida também hoje como
válida, quer nos contextos ainda cristãos quer naqueles onde vivem jovens
pertencentes a outras religiões. Contudo, ela não pode ser reduzida só a um
princípio pedagógico, mas deve ser reconhecida como elemento essencial da nossa
espiritualidade.
O Sistema
Preventivo, que representa
a síntese da sabedoria pedagógica de Dom Bosco e constitui a mensagem profética
que ele deixou aos seus herdeiros e a toda a Igreja. É uma experiência
espiritual e educativa que se funda na razão, na religião e na amorevolezza.
A
educação é coisa do coração.
"A pedagogia de Dom Bosco, escreveu Pietro Braido, se identifica com toda a
sua ação; e toda a sua ação com a sua personalidade; e Dom Bosco inteirinho
está concentrado definitivamente em seu coração".[1]
Eis a grandeza e o segredo do seu sucesso como educador. "Afirmar que o
seu coração fora entregue inteiramente aos jovens, significa dizer que toda a
sua pessoa – inteligência, coração, vontade, força física –, todo o seu ser
estava orientado para fazer-lhes o bem, promover-lhes o crescimento integral,
desejar-lhes a salvação eterna".[2]
A formação
do honesto cidadão e do bom cristão. Formar "bons cristãos e honestos cidadãos" é a
intencionalidade expressada muitas vezes por Dom Bosco para indicar tudo aquilo que os jovens precisam para
viver a própria existência humana e cristã em plenitude. A presença educativa
no social compreende, então, estas realidades: sensibilidade educativa,
políticas educacionais, qualidade educativa da vivência social, cultura.
Humanismo
salesiano. Dom Bosco sabia
"valorizar tudo o que há de positivo enraizado na vida das pessoas, nas
realidades criadas, nos acontecimentos da história. Isso o levava a perceber os
valores autênticos presentes no mundo, sobretudo se agradáveis aos jovens; a
inserir-se no fluxo da cultura e do desenvolvimento humano do próprio tempo,
estimulando o bem e recusando lamentar-se sobre os males; a sábia busca da
cooperação de muitos, convencido de que todos possuem dons a serem descobertos,
reconhecidos e valorizados; a crer na força da educação que sustenta o
crescimento do jovem e o encoraja a ser cidadão honesto e bom cristão; a
entregar-se sempre e em qualquer situação à providência de Deus, percebido e
amado como Pai".[3]
Sistema
Preventivo e Direitos Humanos. A Congregação não tem motivos de existir se não for para a salvação
integral dos jovens. A nossa missão, o evangelho e o nosso carisma pedem-nos
hoje para percorrer a estrada dos direitos humanos; trata-se de um itinerário e
de uma linguagem novos que não podemos transcurar. O sistema preventivo e os
direitos humanos interagem, enriquecendo-se reciprocamente. O sistema
preventivo oferece aos direitos humanos uma abordagem educativa única e
inovadora em relação ao movimento de promoção e proteção dos direitos humanos.
Igualmente, os direitos humanos oferecem ao sistema preventivo novas fronteiras
e oportunidades de impacto social e cultural como resposta eficaz ao
"drama da humanidade moderna, da fratura entre educação e sociedade, da desconexão
entre escola e cidadania".[4]
Para uma
compreensão profunda e a atuação dos pontos nodais acima indicados é muito útil ler: O Sistema Preventivo na educação da juventude, a Carta de Roma, as Biografias de Domingos Sávio, Miguel Magone, Francisco Besucco, documentos
de Dom Bosco que ilustram perfeitamente tanto a sua experiência educativa como
as suas escolhas pedagógicas.
P. Pascual
Chávez V., SDB
Reitor-Mor
[1] Cf. P. BRAIDO, Prevenir, não
reprimir. O sistema educativo de Dom Bosco. São Paulo: Salesiana, 2004, p. 169.
[2] P. RUFFINATO, Educhiamo con il
cuore di Don Bosco, in “Note di Pastorale Giovanile”, n. 6/2007, p. 9.
[3] Cf. Carta de identidade carismática
da Família Salesiana, Art. 7. Brasília: Editora Dom Bosco, 2012.
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